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       Não  atrele  o  Evangelho  de Jesus à mesquinharia humana. A Boa Nova não reconhece preconceitos, não abona  fanatismo e não é propriedade de religião ou religiosos. O verbo empregado é o Amor incondicional às criaturas. O Evangelho do Cristo veio para esclarecer, sedimentar e ser difundido entre os povos da Terra. Naturalmente, todos são convidados ao banquete de luz!

 

 Abihel

Mensagens Atuais
 

Âncora 1

Abaixo, em ordem alfabética de título, constam artigos oportunos para esclarecimento e reflexão.

Brasil da edificação mútua

 

"Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútua.” Romanos, 14: 19

 

Irmãos da Pátria do Cruzeiro

A nação brasileira está mergulhada no conservadorismo patogênico, nas urdiduras da inverdade propagada pelas religiões medievais e nas doutrinas políticas enraizadas nas materialidades que apagam as esperanças dos vencidos.

Enquanto os homens insistirem no caminho dos desmandos e ignorarem a luz do Evangelho do Cristo, que manda amar o próximo na pessoa de si mesmo, sofrerão a pena de Talião ulteriormente... 

Por trás do véu de Ísis a verdade brilha inconteste e aqueles que semeiam infortúnio e miséria nos corações indefesos, receberão, por sua vez, do mecanismo da Lei de causa e efeito, o martírio da dor e do sofrimento correspondentes.

Urge que vibremos por um Brasil cristão, porém irmanado nos laços genuínos da solidariedade e do altruísmo sem fronteiras. É preciso eleger o bem maior como lei de caridade para todos! 

Multipliquemos no solo pátrio o regozijo que enxuga lágrimas e o amor que une a todos, porquanto a bandeira da confraternização está hasteada. 

Não olvidemos que no Evangelho do Divino Enviado tem-se a fórmula da administração individual e coletiva para o soerguimento dos espíritos endividados. 

Sejamos facho de luz para alumiar as trevas da estrada.  É preciso reformar a alma brasileira para avançarmos com Jesus nessa transição.

Conforme em Romanos, 14: 19: “Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútua.” 

 

Artigo: Abihel / Jorge

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Compatibilidade de alma

 

"O que Deus uniu, o homem não separe!”  Jesus (Marcos, 10:9)

 

“Todo relacionamento afetivo necessita de diálogo aberto para fortalecer a própria união. Se os consortes tiverem coragem amorosa e vontade arrojada nesse intento, a união se fortalecerá a cada passo. Homens e mulheres necessitam muito mais de amor que abraça e asserena do que desdém e endurecimento postural. Sem construção de valores que norteiem as ações afetivas não há compromisso, fidelidade, companheirismo, idealismo e objetividade no caminhar juntos. As partes têm de ser mais flexíveis para com os defeitos observados. Em muitos lances, é necessário abrandar o pensamento enervado para silenciar a própria voz ante os ânimos exaltados. É preciso, pois, "descomplicar" o entendimento difícil, o olhar severo, as palavras duras e os gestos desagradáveis para saber tocar o coração do outro.  Ao exercitar empatia e investir na química do bom humor as resistências cedem. Imprescindível aclarar a percepção para estender mais apoio nas situações emergentes. É de capital importância o tocar das mãos para que se produza o efeito analgésico esperado. Imperioso renovar, diariamente, os votos de aliança matrimonial. Em síntese, ao se desenvolver a consciência de nós mesmos e do outro, aprendemos que o ente estimado não é item de posse para regramento caprichoso. Certamente, deve-se reaprender a namorar para sorrir mais, tanto quanto testificar ao coração eleito: ‘Amo você, alma querida, e que Deus nos abençoe nesse mandato de amar mais’. Por essa via de acesso nasce a espiritualidade conjugal e a compatibilidade de alma.” 

Artigo: Abihel / Jorge

 

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Complexo de Peter Pan

“Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” (Efésios, 4:14)

“O espírito reencarnado, efetivamente, mostra-se suscetível por não haver superado as etiologias internas dos conflitos infantis.” (Abihel)

Etimologia. Complexo advém do latim Complexus, que significa agarrado, entrelaçado. Em alemão é Komplex ou emocionalmente carregado. O Complexo de Peter Pan se caracteriza pelo comportamento de adultos que se recusam amadurecer e a se distanciar do “eu” infantil, pois vivem num mundo imaginário e são potencialmente títeres de si mesmos. Há um “frescor juvenil” que se prolifera na sociedade humana, a Geração Peter Pan; uma geração dependente financeira e afetivamente que mantém o status quo ao invés de assumir responsabilidade sobre si. Na contemporaneidade há uma geração de adolescentes tardios de 20, 30 e 40 anos que criam subterfúgios para esquivar-se de compromissos da vida adulta. O vocábulo adolescência tem origem no latim: ad = para e olescere = crescer. Desse modo, adolescência significa crescer para. Então, o comportamento juvenil é um período de transição no desenvolvimento biopsicossocioespiritual para a maioridade. A Organização Mundial de Saúde define como sendo o período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos. Para a OMS é dividida em três fases: pré-adolescência dos 10 aos 14 anos; adolescência dos 15 aos 19 anos completos e juventude dos 15 aos 24 anos. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente considera a adolescência a faixa etária dos 12 aos 18 anos de idade, sendo referência, desde 1990, a criação de leis e programas que asseguram os direitos destes indivíduos. Peter Pan é um personagem criado por James Matthew Barrie. O personagem é um pequeno rapaz que se recusa crescer como indivíduo, porém decide aventurar-se na terra do faz de conta pela janela da fantasia. Neverland simboliza o paraíso das ilusões, porém, não importa onde a mente se assente porque a existência continuará subordinada ao mundo real. Nesta analogia encontramos seres em derredor que não vislumbram o campo moral e intelectivo para desenvolver-se como espírito eterno que é. Assim, o complexo é um conjunto de comportamentos que se aglomeram na infância por meio de conflitos emocionais recorrentes de forma interna e externa a que estão inseridos. O complexo interfere na vida consciente ao exercer influência nos pensamentos e sentimentos. O conceito síndrome passou a ser conhecido após a publicação do livro de Dan Kiley intitulado “Síndrome de Peter Pan, homens que nunca crescem”, em 1983. O complexo é um fenômeno sociopsicológico que descreve a incapacidade de alguém se enxergar mais velho ou adquirir um comportamento associado à idade adulta. Entretanto há outros complexos da alma que solicitam atenção acurada quais o complexo de inferioridade, complexo de Wendy, complexo de Diana, complexo de Édipo, complexo de Caim e complexo de Electra que são perturbações do ego e devem ser analisados à luz da ciência. O psiquiatra Murray Stein na obra Mapa da alma afirma com veemência que há interação do ego com o complexo, porquanto o complexo irrompe na superfície da consciência: “existem, porém, outras perturbações de consciência que não estão claramente vinculadas a quaisquer causas ambientais e são totalmente desproporcionais em face dos estímulos observáveis. Essas perturbações não são primariamente causadas por colisões externas e sim internas. As pessoas enlouquecem às vezes, com poucos motivos aparentes. Ou têm bizarras experiências imaginárias internas que redundam em formas inexplicáveis de comportamento. Tornam-se psicóticas, têm alucinações, sonham ou ficam pura e simplesmente loucas, ou apaixonam-se, ou são dominadas por uma fúria incontrolável. […] Os humanos são impelidos por forças psíquicas, motivados por pensamentos que não se baseiam em processos racionais, e sujeitos a imagens e influências para além daquelas que podem ser medidas no meio ambiente observável”. Apesar desse contexto, a síndrome não é considerada doença, pois não está catalogada nos manuais de transtornos mentais. O caminho eficaz para o tratamento é a psicoterapia. Consoante a psicologia contemporânea, as características do complexo são: ansiedade, impaciência, ser mimado, falta de confiança, fragilidade emocional; evitam responsabilidades e compromissos; são manipuladores; postergam suas tarefas, possuem forte dependência econômica dos pais e são narcisistas. Apesar de demonstrarem entusiasmo à sua volta, suas mentes permanecem repletas de conflitos, medos e tristezas constantes. Do ponto de vista psicológico, pais protetores induzem a não terem iniciativa, porquanto deseducam a enfrentar as adversidades da jornada. Esquecem-se de que aprender com os erros é fundamental para o crescimento e desenvolvimento humano. Estudos apontam que o comportamento pueril gera frustrações e depressão nesses indivíduos.

Aclarando as dualidades: Peter Pan simboliza o pueril desejo da juventude eterna que desfruta da imaturidade na “Terra do Nunca”. O Capitão Gancho representa a árdua realidade da existência, pois crescer exige trabalho, empenho, visão e dose de sofrimento.  Diametralmente opostos, sofrem os embates entre devaneio e racionalidade, inépcia e perspicácia, emoção e lógica. A criança não precisa arcar inteiramente com as consequências de suas ações, pois a proteção dos pais a salvaguarda do mundo real. Pan é a personificação da infância, do medo em tornar-se adulto dramático, submisso e frágil. O mundo adulto é simbolizado no Capitão Gancho, conquanto apresenta-se como figura execrável. Para ser homem é preciso se tornar num tirano, agir por interesse próprio, impor limites em derredor e associar as atitudes ao conservadorismo que a juventude abomina, mas que são, amiúde, essenciais à sua existência. Assim, Gancho e os piratas representam o homem materialista, despótico e sem caráter da sociedade humana. Faltam em ambos o compromisso da maturidade e da renovação dos ideais. Maturidade não vem da biologia, mas do entendimento, do tempo empregado e da educação. Consoante o eminente André Luiz: “O trabalho é lei da vida, é benção que se não deve desperdiçar porque o preguiçoso é um cadáver que pensa”. O homem corajoso sabe que o sacrifício é inevitável e acata sem medo o que a vida lhe impõe. Apenas homens virtuosos reconhecem que seus afetos e anseios, quando colocados acima da razão, resultam em imaturidade e egoísmo. A alma é o resultado de sua própria construção. As ideias recalcadas em nós encontram sua consonância no arquivo milenar do próprio espírito à luz das reencarnações. Não olvidemos que a falta de amor quanto o seu excedente, igualmente causam desalinho na sede mental. Reflitamos nas palavras de Paulo: “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.” (1 Coríntios, 13:11). Isso significa que gradualmente chegará um novo tempo em que Deus soprará um vento de mudança sobre essas vidas, notificando-as que é hora de investir no crescimento individual e espiritual para alcançar a sabedoria. 

 

Artigo: Abihel / Jorge

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Cópula entre corações

“Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.” (Colossenses, 3:14)

“Energia sexual é energia criativa que move a vida, nossas vontades e desejos.” (Carl Gustav Jung). Etimologia: Cópula advém do latim Copulare e significa união sexual, permuta química e hormonal. É sabido que a verdadeira sexualidade não reside nos órgãos físicos, mas na alma como força motriz de criatividade. Nesse entrelaçamento, união sexual e espiritualidade celebram o amor e não podem ser tratados como dicotomia. Sua pureza depende da intenção e da moralidade dos parceiros, já que vai além do sensório físico. O homem, ainda cego de espírito, não consegue entender os motivos sublimes de sua existência humana, posto que povoa seus pensamentos com desregramentos e vícios.  Energia genésica, na ótica espiritual, é fonte imaculada e sistema de compensação que beneficia a psique dos corações envolvidos. Estando subordinado à Lei de causa e efeito, o sexo consciente exige dos consortes educação, emprego digno, respeito e caráter, uma vez que o assunto é atinente à consciência de cada um. Na obra Vida e sexo, do preceptor Emmanuel, colhemos a seguinte assertiva dessa comunhão: “Dele dimana forças criativas, às quais devemos, na Terra, o instituto da reencarnação, o templo do lar, as bênçãos da família, as alegrias revitalizadoras do afeto e tesouro inapreciável dos estímulos espirituais [...] Sexo é espírito e vida a serviço da felicidade e da harmonia do Universo. Conseguintemente, reclama responsabilidade e discernimento, onde e quando se expresse.” É preciso que pulse sintonia entre os enamorados, além da chama do desejo. Na contemporaneidade homens e mulheres conhecem apenas a relação horizontal do amor-deleite material, que é gerador da codependência afetiva ao invés da verticalidade da comunhão pedagógica do amor.  

O que são Leis de afinidade e atração? O universo é regido por Leis de equivalência e frequência que se atraem pela força do vínculo. No sentido metafórico compreende-se sintonia como estado de acordo mútuo entre dois seres na relação humana. No sentido espiritual se define por simbiose, que é um padrão vibratório das irradiações mentais e emocionais, porquanto o amor atrai amor e aversão atrai aversão. No movimento circular as mesmas leis unem ou separam as criaturas pelas afinidades morais. Compreendamos que pensamento é núcleo de forças atuantes que gravitam o bem e os males gerados pela criatura. Consoante o emérito André Luiz: “ideia é um ser organizado pelo espírito a que o pensamento dá forma e ao qual a vontade imprime movimento e direção.” Então, é possível aprimorar a capacidade de sintonia entre as almas? Sim, dignificando o próprio pensamento por meio da ampliação da inteligência como a percepção, discernimento, ponderação e informação. No campo emocional há que se desenvolver moralidade, disciplina, autoaperfeiçoamento e exercício no bem. Em síntese temos, toda comunhão estabelece um circuito de forças psíquicas e, quanto maior for a integração, os centros de força superiores serão beneficiados, sobretudo, o cérebro e sistema nervoso. Assim, há uma explosão de energia cambiante que expande a aura humana, reparam-se as células e restitui a saúde corpórea. Examinemos as discrepâncias entre cópula habitual e cópula espiritual à luz da razão.

Rubor

No sexo ordinário é natural sentir rubor na intimidade. No espiritual é indispensável haver identificação e empatia, conquanto a permuta de energias vai além do desejo exteriorizado.

União divina

Na cópula natural a sensação de euforia é mediada pelo clímax alcançado. Na cópula espiritual há a união de almas que se autorrealizam e entrelaçam seus destinos rumo ao amor profundo. Conforme Léon Denis em O problema do ser, do destino e da dor, cap. 25, o amor verdadeiro transforma os corações: “sob a influência e irradiação do amor, a alma desenvolver-se-á e engrandecerá, verá alargar-se o círculo de suas sensações. Lentamente, o que nela não era senão paixão, desejo carnal, ir-se-á depurando, transformando num sentimento nobre e desinteressado; a afeição a um só ou a alguns converter-se-á na afeição a todos, à família, à pátria, à Humanidade.”

Unidade

Satisfação sexual é somente consequência do desejo; contudo, pode haver a surpresa da frustração...  No espiritual os seres compreendem que a verdadeira parceria se funde na convicção do somos um na carne e na alma.

Estabilidade

Toda ligação simétrica regida por laços de amor e afinidade cria vínculo duradouro. Desejos nascidos da volúpia e do frenesi se desfazem no tempo. 

Desregramento

No descontrole emocional do sexo atrai-se a obsessão pela carga lasciva que se apresenta. As consequências dos abusos estão atreladas à Lei de causa e efeito, posto que o acaso não existe. Daí a afirmação de que todo efeito tem uma causa. Na cópula amorosa e respeitável o ninho doméstico é resguardado pela Divindade.

Consequências de relações fortuitas

Nas relações circunstanciais convém lembrar que as paixões desenfreadas seguem o roteiro da união enferma cujo resgate será a longo prazo pela contabilidade das lágrimas. Asseverou Allan Kardec acerca do casamento: “nem a lei civil, nem os compromissos que ela faz contrair podem suprir a lei do amor se esta lei não presidir a união; disso resulta que, frequentemente, o que se une à força, se separa por si mesmo; infelicidade que se evitaria se, nas condições do casamento, não se fizesse abstração da única lei que o sanciona aos olhos de Deus: a lei de amor”. Assim, das relações fortuitas há instalação da culpa; tem-se o desalinho das energias sexuais; inaugura-se a perturbação emocional; colhe-se impressões frustrantes; altera-se os hábitos do ser; irrompem novas doenças, etc. Não olvidemos que toda lesão implantada nos sentimentos de outrem terá de ser reparada. 

Recordemos que a organização social e o código cultural humano evoluem no tempo. Nesse panorama há que se respeitar as almas afins das relações homoafetivas que se expressam em graus diferentes do amor integrado, visto que são dois seres compartilhando um só investimento, segundo a perfeição que adquiriram. Hodiernamente, a família é fundada em vínculos de afeto, haja vista que homens e mulheres são filhos de Deus e têm direito de formar família perante a Lei sem preconceitos e discriminação de gênero. Conforme o Evangelho segundo o espiritismo, cap. XI item 9, de Fénelon, Bordeaux, 1861: “O amor é de essência divina e todos vós possuís, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado.” Por essa razão, as criaturas nasceram do hálito divino para se amarem umas às outras. Sexo consciente é legado sublime que plasma responsabili­dades naturais entre os corações.

Artigo: Abihel / Jorge

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Cristo estadista da política divina

“E quem governa seja como quem serve” Jesus (Lucas, 22: 26)

Etimologia: O vocábulo estadista deriva da união de estado e do sufixo ista. A terminação “ista” designa ofício, especialista, proveniência. Segundo a definição do dicionarista Antônio Houaiss, estadista ou homem de Estado é um líder versado nos princípios ou na arte de governar com competência, empenho e conhecimento dos assuntos políticos. Compreendamos que espírito obstinado nas lides terrenas é aquele que desenvolve ampla visão de mundo para reformar e fortalecer as instituições políticas em favor dos compatrícios. No entanto, muitos estadistas exerceram seus desideratum com mãos de ferro por olvidarem a plataforma do Evangelho Redentor que cessa o egoísmo da animalidade primitiva. É sabido que homem de Estado não é o que manda, mas o que governa, e governar é tomar decisões após ouvir as forças políticas e sociais legítimas e procurar saber quais são as prioridades das gerações atuais e as gerações futuras.  Desse modo, é capaz de inspirar os cidadãos a trabalhar dignamente no mesmo intento por um país melhor. Então, como distinguir um espírito estadista de um político vulgar? Em tese, o estadista é o ativista que exerce liderança política com sabedoria e sem limitações partidárias. Ele sabe quais são os entraves ao desenvolvimento e ao fortalecimento de suas instituições. Compreende que atividade política é serviço e não serva de ambições individuais, de prepotência de facções e de interesses escusos. Em contrapartida, políticos vis apenas se preocupam com resultados imediatos de suas ações, pois visam apenas arrancar votos do eleitorado inconsciente. Quais são as características do verdadeiro estadista? É possível reconhecê-lo na linguagem concisa e sem ambiguidades; não é sectário extremado de doutrinas ou ideologias; está acima da política partidária e exerce poder de persuasão. Para Charles Austin Beard (1874-1948), historiador de ciências políticas: “Estadista é aquele que adivinha o futuro, prevê o lugar de sua classe e nação. Nele é depurado a inteligência para preparar seus compatriotas, já que combina coragem e discrição para assumir riscos. É cauteloso e, amiúde, sai do palco das atribuições com um grau razoável de respeitabilidade.” Para Aristóteles, o estadista anseia imprimir, em seus concidadãos, um certo caráter moral para formar pessoas honestas em que predomine a razão. Para Tomás de Aquino os valores cristãos não podem se separar da política, do bom governo e da figura do rex justus (rei justo que governa por meio de conselhos). Sendo assim, o governante virtuoso naturalmente inspira o cidadão para que seja reto em suas ações. É da máxima: O estadista se preocupa com a próxima geração e o político ambicioso com a próxima eleição. Em síntese, o político estadista tem uma missão criadora e é completamente diverso do político astucioso que não tem missão alguma. As virtudes dele são honradez, veracidade e escrúpulos; portanto, difere do político mesquinho que costuma ser propenso aos vícios como a desfaçatez, hipocrisia e venalidade. Examinemos alguns nomes proeminentes da história terrena com seus arroubos de consciência e suas paixões excessivas. No Velho Testamento temos o líder José, filho de Jacó, que se tornou Adon (chanceler) do Egito. Foi administrador do Faraó para reger a crise econômica com estratégia e atravessar os períodos difíceis. Em Moisés tem-se a figura ímpar do legislador que estabeleceu as bases legais, civis e religiosas do povo hebreu. Igualmente foi responsável em reeducar o povo cativo a se comportar como uma grande nação. Da Grécia antiga sobressai a imagem de Drácon (século VII a.C.), estadista ateniense. Foi legislador que substituiu o sistema de leis orais por um código escrito a ser utilizado por tribunais, porquanto diferenciou homicídio culposo do doloso e da legítima defesa. Em Roma destaca-se o imperador Caio Júlio Cesar (100 a.C.-44 a.C.) que liderou o processo de transição do modelo republicano para o Império. Em França do século XVIII e XIX surge a efígie do imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821) que simboliza o gênio militar e poder político. No século XX evidencia-se o vulto de Indira Gandhi (1917-1984), que não tem parentesco com Mahatma Gandhi. Indira foi a primeira-ministra da República da Índia por três mandatos consecutivos de 1966 a 1977 e um quarto mandato de 1980 até seu assassinato em 1984. Na África do Sul observa-se o líder negro Nelson Mandela (1918-2013), posto que foi um dos maiores estadistas da História: “Eu lutei contra a dominação branca, e lutei contra a dominação negra. Eu cultivei o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. Este é um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.”  Na América do Norte ressalta o célebre Abraham Lincoln (1809-1865) que proferiu: "nesta nação, sob a graça de Deus, terá um renascimento da liberdade; e o governo do povo, pelo povo e para o povo não perecerá sobre a Terra."  No Reino Unido distingue-se a personalidade de Winston Churchill (1874–1965), líder com aura de herói. Elevou os princípios acima da política. A II Guerra Mundial haveria de colocá-lo em confronto com o nazismo. No Brasil avulta Getúlio Vargas (1882-1954), pois que defendeu os mais pobres e uma nação soberana. Pronunciou antes de sua morte: “Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo.”

Doutrina Espírita e política humana

 

Não obstante, é oportuno recordar a asserção de Kardec no capítulo XVIII, item 25, de A gênese, obra editada em 1868: “O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração, por isso, é ele contemporâneo desse movimento.” E enfatiza J. Herculano Pires: “O Espiritismo se liga a todos os campos das atividades humanas, não para entranhar-se neles, mas para iluminá-los com as luzes do Espírito. Servir o mundo através de Deus é a sua função e não servir a Deus através do mundo. Por tudo isso, devemos entender que são fundamentais o Espiritismo e a Política para a construção de uma Nova Sociedade.”

Brasil e a profecia do novo estadista cristão

Alegremo-nos, pois, que a terra de Santa Cruz converter-se-á em reino edificado! Para reflexão e estudo doutrinário, extrairemos um trecho profético da mensagem de André Luiz do ano 1952, que versa sobre o futuro político do Brasil: “O mundo caminha para grandes conquistas e também para grandes catástrofes. O engenho de Guerra que assombrou o mundo com a destruição moral e material de Hiroshima e Nagasaki será a causa de desentendimento no mundo inteiro. [...] Mas, no fim de tudo, vai aparecer um homem franco, sincero e leal que, montado em seu cavalo branco e com sua poderosa espada, dará uma nova dimensão e personalidade nos destinos do Brasil, corrigindo injustiças e fazendo voltar a confiança e esperança no futuro do Brasil. Será combatido e criticado por seu temperamento e atitudes, mas ele contará com a proteção das Forças Supremas que habitam o Cosmos, e o Brasil será verdadeiramente o coração do mundo e, apesar de crises e ameaças, internas e externas, que irão aparecer, ele será sempre o fiel da balança pela sua fé e a esperança no destino do Brasil a ele confiado.” Confiemos no plano diretor de Jesus.  A Pátria do Evangelho necessita de espíritos obstinados, pois a ética está acima da moralidade!

Jesus, o estadista dos estadistas

Em Jesus temos o Cristo estadista da política divina. Quando o homem implantar o evangelho social sem o uso de decretos humanos no seio das coletividades, o mal será banido dos corações vacilantes. O Divino Enviado, para atender aos objetivos da política do amor, representou, com distinção, os interesses de Deus junto do coração humano. Conduziu servindo, levantou os caídos e humilhou a si mesmo. Nessa tarefa sublime, amou profundamente os semelhantes e não subordinou seu Código de Vida Eterna a parlamentos transitórios, a coroa ou a administradores do mundo. Por isso mesmo, raras inteligências do orbe têm ouvido o chamamento elevado. Contudo, o convite sagrado continua a fazer apelo aos corações de boa vontade. Na obra Alma e Luz, de Emmanuel, cap. XII – Política, o autor espiritual faz alusão ao Cristo como servidor fiel das criaturas humanas em consonância com à vontade do Pai. Ei-la na íntegra:

Política

“O Evangelho apresenta, igualmente, a mais elevada fórmula de vida político-administrativa aos povos da Terra. Quem afirma que semelhantes serviços não se compadecem com os labores do Mestre não penetrou ainda toda a verdade de suas Lições Divinas. A magna questão é encontrar o elemento humano disposto à execução do sublime princípio. Os ideais democráticos do mundo não derivaram senão do próprio ensinamento do Salvador. Poderá encontrar algum sociólogo do planeta, plataforma superior além da gloriosa síntese que reclama do governante as legítimas qualidades do servidor fiel? As revoluções, que custaram tanto sangue, não foram senão uma ânsia de obtenção da fórmula sagrada na realidade política das nações. Nem, por isso, entretanto, deixaram de ser movimentos criminosos e desleais, como infiéis e perversos têm sido os falsos políticos na atuação do governo comum. O ensinamento de Jesus, nesse particular, ainda está acima da compreensão vulgar das criaturas. Quase todos os homens se atiram à conquista dos postos de autoridade e evidência, mas geralmente se encontram excessivamente interessados com as suas próprias vantagens no imediatismo do mundo. Ignoram que o Cristo aí conta com eles, não como quem governa tirânica ou arbitrariamente, mas como quem serve com alegria, não como quem administra a golpes de força, mas como quem obedece ao Esquema Divino, junto dos seres e cousas da vida. Jesus é o Supremo Governador da Terra e, ao mesmo tempo, o Supremo Servidor das criaturas humanas.”

Irmãos, certamente a sabedoria da vida colocou o homem no lugar onde possa aprender com eficiência para servir melhor. Compreendamos que é do chão do mundo que o ser recolhe as bênçãos do pão diário. Dessa forma, é indispensável aplicar os princípios cristãos nos lares, educandários e no organismo social para refulgir os ensinamentos do Cristo onde estiver, tanto quanto assegurar essas mesmas benesses às gerações vindouras.          

Artigo: Abihel / Jorge

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Educação infantil versus infantolatria

"Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo".  Jesus (João, 3:3)

“Espiritismo é educação de massa. Muitas pessoas, mesmo entre as que se colocam à frente do movimento espírita e de grandes instituições doutrinárias, não são capazes de abranger na sua compreensão essas duas dimensões do processo educacional espírita. Querem reduzir a Educação Espírita ao campo do autodidatismo. Só entendem a educação individual pela doutrina. E por isso andam por aí os pregoeiros, bem intencionados, mas equivocados, de uma campanha obscurantista (valha-­nos Deus) contra os cursos, as escolas, as instituições educacionais e a Educação Espírita.” (Herculano Pires, Pedagogia Espírita)

Etimologia: O vocábulo educação vem do latim educare, que significa guiar, instruir, conduzir. Em latim a educação tinha o significado literal de se “guiar para fora” ou fora de si mesmo.

O espírito é um ser pré-existente e interexistente além das dimensões físicas! “[...] Deus colocou o filho sob a tutela dos pais a fim de que estes o dirijam pelo caminho do bem, e lhes facilitou a tarefa dando à criança uma organização frágil e delicada, que a torna acessível a todas as impressões.” (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão 582). A infância é a fase que o espírito está mais acessível às impressões da boa conduta. Gradualmente assume o controle da organização física e vai se adaptando ao ambiente que o acolheu. A reencarnação inicia-se na fecundação e o espírito, pouco a pouco, vai se entranhando na matéria até o seu nascimento. Este processo ocorre até os sete anos de idade. Após essa idade readquire a sua própria personalidade, tornando-se mais difícil a modificação de caráter, desde que impulsionado para o mal. O Espiritismo vem abrir um novo capítulo da psicologia infantil e da pedagogia, mostrando a importância da educação da criança não apenas para esta vida, mas para a sua própria evolução espiritual. O espírito que anima o corpo de uma criança pode ser de uma alma velha e evoluída ou pode ser um espírito novo, inexperiente. No tocante aos hábitos que desenvolverá, é sabido que nortearão a sua existência terrena. Diz-nos Emmanuel em O Consolador, nas perguntas 108 a 111, que somente o lar educa e a escola apenas instrui. Paralelamente, o espírito André Luiz diz-nos que o lar é o principal agente transformador da conduta humana. O Mestre Lionês, em O Livro dos Espíritos, questão 199-a e 385, pondera que a infância não é um estado normal de inocência, conquanto o espírito traz na sua bagagem espiritual as qualidades boa ou má de existências anteriores. Durante o período em que seus instintos se conservam adormecidos, a criança é mais maleável para se moldar porque é mais acessível aos conselhos dos pais para fazê-la progredir. Nessa fase, os pais tem o dever moral de reformarem os caracteres e reprimir os maus pendores. No campo da educação, consoante o abnegado Emmanuel, deve-se primar pela elevação moral: “[...] com o cultivo da inteligência e com o aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de conhecimento e bondade, saber e virtude, não será conseguida tão só à força de instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade que, em se consagrando ao bem por si própria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode libertar e polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma, capaz de refletir a Vida Gloriosa e transformar, consequentemente, o cérebro em preciosa usina de energia superior, projetando reflexos de beleza e sublimação.” (Emmanuel, Pensamento e vida). Na obra Pedagogia Espírita, de J. Herculano Pires, o autor aborda que a dimensão da educação espírita é uma necessidade premente para a orientação do processo pedagógico nas escolas espíritas como uma realidade sociocultural: “A inteligência infantil se manifesta progressivamente, passando da fase sensório-­motora para a fase prática, desta para a representativa e desta para a abstrata. Mas está sempre atuante no desenvolvimento orgânico e psíquico. Enfrentando o problema na posição materialista podemos negar à criança a capacidade de compreensão de certos princípios abstratos, mas enfrentando-­o numa posição espírita teremos de admitir as suas possibilidades latentes. A captação intuitiva, subliminar, antecipa a compreensão racional e prepara o seu desabrochar no futuro. [...] a evangelização da criança não pode ser encarada como ato de imposição ou de violência. Nenhuma aula de evangelização espírita impõe dogmas de fé nem pretende realizar a internalização dos princípios espíritas, pois sua finalidade é o contrário: despertar na criança as suas forças interiores e fazê-las aflorar no plano da consciência.” Assim, temos na educação tradicional apenas a formação intelectual dos indivíduos, preparando-os para o sucesso profissional e material. Na educação espírita a dimensão é maior. Ao considerar o educando um espírito imortal revestido, temporariamente, de um corpo físico para agir na esfera terrena, é indispensável que sua educação seja acrescida de valores morais para criar o próprio destino na sua jornada humana. Dessa forma, a educação espiritual prepara as crianças para que tenham atitudes nobres em todas as fases da vida corpórea.

Consoante o digno médium Francisco Cândido Xavier: “Criança que gosta de rasgar papéis é uma criança até certo ponto agressiva. Não podemos permitir que tenha uma liberdade nociva. Crianças que destroem brinquedos, objetos domésticos, estragam paredes, móveis, matam animais e plantas, gritam continuamente, explodem em birra à menor contrariedade, demonstram ervas daninhas que devem ser combatidas pelos pais [...].  Habituando-as à disciplina e ao equilíbrio desde pequenas, imunizaremos contra os perigos do desequilíbrio futuro.”

Infantolatria

Infantolatria forja pequenos tiranos no lar, porquanto serão, mais tarde, adultos frustrados na sociedade! O vocábulo composto “infância” + “idolatria” produz a infantolatria, ou seja, criança sem limites ou centro de tudo. Estudiosos de Ohio State University - EUA, apontaram que o excesso de mimos na infância repercute negativamente na vida adulta, pois que o indivíduo, desde a mais tenra idade, assimilou a ideia de não ser contrariado. Pais afetuosos não devem colocar o filho em um pedestal! Pesquisadores afirmam que a educação dentro de uma atmosfera de cordialidade parental é mais propensa a desenvolver autoestima. Quando famílias se tornam infantólatras a educação mirim fica comprometida e o pequeno torna-se despótico e narcisista. É imprescindível fazer uso da Inteligência emocional, que é uma habilidade para ser exercitada. Marcia Neder, autora do livro “Déspotas Mirins”, define infantolatria como “mãe, súdita do filho ao se colocar absolutamente disponível para a criança”. Segundo Neder, as relações parentais (tios, sogros e avós), na contemporaneidade, não se adaptaram ao ato de educar, que é a de impor limites às birras. Assim, nas frustrações os pequenos não conseguem expressar o que sentem na alma e, por esse motivo, fazem uso do choro, grito, fúria, esperneamento e jogar-se ao chão para chamar atenção. Não olvidemos que comportamento desregrado gera, no futuro, a delinquência juvenil. É importante compreender que a reencarnação é oportunidade de renovar e socializar o espírito no educandário do lar.

Roteiro seguro

“Na preleção que acontecia no Mundo Maior, o instrutor Benjamin elucidava, com presteza e afabilidade, as perquirições dos aprendizes do bem acerca da educação infantil no sagrado instituto da família terrena. Ponderando o assunto, o benfeitor alinhou as ideias e arrematou com brandura: A criança é como a argila que necessita ser modelada pelos pais. Embora traga na sua bagagem espiritual experiência diversa, é indispensável que os pais reeduquem o espírito infantil nos ditames do Evangelho, que é código de vida eterna. Instrua-o com carinho e ele aprenderá que o amor cessa toda rede de egoísmo; Eduque-o com pulso firme e extirparão as tendências viciadas da alma imortal; Ampare-o nas diretrizes do bem e ele caminhará com a coragem e segurança necessários; Molde-o na simplicidade da vida e ele respeitará a todos na pessoa de si mesmo; Advirta-o das ilusões dos sentidos entorpecidos e ele saberá enfrentá-los com dignidade; Convida-o a refletir sobre os seus atos e ele amadurecerá mediante o próprio esforço; Introduza-o nas lições diárias do Evangelho e alcançarão o tesouro de seu coração. Examinando a assimilação dos noviços diante da exposição didático-espiritual como fator de equilíbrio e segurança no mundo corpóreo, Benjamin, cortesmente, encerrou a palestra educativa.”

           

Artigo: Abihel / Jorge

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Elemento aquoso, dádiva celeste

“Quem beber desta água terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Pelo contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna”. (João, 4:13-14)

Do Oceano de substâncias invisíveis jorra o fluido da vida que organiza e alimenta as colmeias humanas. Assim como sua fluidez, os homens encontram na solvência das águas o poder de limpeza que transcende o casulo físico.  Etimologia. Água advém do latim aqua. Em grego é hydra. Água tem a fórmula H2O e é uma substância química cujas moléculas são formadas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Foi o cientista Antoine Laurent Lavoisier, considerado pai da química moderna, quem descobriu esses elementos. Abundante na Terra, cobre 2/3 de sua superfície, sendo o maior constituinte de fluidos dos seres vivos com capacidade de mediar reações bioquímicas tanto no interior quanto entre as células dos organismos. Não olvidemos que as civilizações humanas se desenvolveram em derredor da confluência de rios. Em diversas crenças o líquido esteve ligado à criação da vida, fato este comprovado pela ciência posteriormente. Tales de Mileto, filósofo grego, acreditava que o princípio de todas as coisas era a água. Com base em suas observações empíricas, Tales constatou que os elementos que constituíam a natureza eram compostos, em maior proporção, de água. Nessa reflexão nasceu sua cosmologia. Diante dessa importância, as escolas religiosas do orbe atribuíram significados de nascimento, renovação, cura e pureza acerca do líquido. “A água é uma manifestação da vida. A crise hídrica tem se manifestado com mais força em alguns lugares, mas o desequilíbrio é geral. O sintoma aparece com mais nitidez em um continente, mas a doença é planetária. É um desequilíbrio no ciclo da própria vida. Embora o tema seja complexo e envolva questões sociais, políticas e econômicas, na raiz dessa crise está a negação da Verdade. A água representa os sentimentos mais profundos, e a falta dela é justamente a negação desses sentimentos. Porém, no mais profundo, o desequilíbrio é um sintoma do esquecimento da espiritualidade.” (Sri Prem Baba).

O liame entre água e espiritualidade é expressivo nas religiões humanas. Examinemos alguns aspectos dessa relação. No Antigo Testamento prediz que o espírito de Deus "pairou sobre as águas”, e disse o Senhor: “Que as águas produzam multidões de criaturas viventes” (Gênesis, 1: 2-20). Na tradição judaico-cristã, Deus enviou uma grande inundação à época de Noé porque “a terra estava cheia de violência” (Gênesis 6:11). As águas desse dilúvio tornaram-se um sinal do batismo que pôs fim ao pecado e criou um novo começo para o bem. No Novo Testamento o batismo nas águas se tornou o rito de iniciação na comunidade cristã, pois é um ato de obediência e de testemunho público de se identificar com Cristo e segui-lo. No Alcorão enfatiza-se que a água é a substância da qual Deus criou o ser humano. Na Índia considera-se o rio Ganges uma encarnação da deusa Ganga que lava as impurezas espirituais das almas. No Catolicismo Romano temos a famosa cura pela água com a aparição de Nossa Senhora de Lourdes a Bernadette Soubirous, em França, que deveria cavar o chão para encontrar o líquido precioso e se lavar nele. Nas agremiações espiritistas brasileiras tem-se o passe magnético com a imposição de mãos, juntamente administrado com a água magnetizada. O magnetismo de Franz Anton Mesmer (1734-1814) preparou o caminho para o Espiritismo, e os rápidos progressos desta última doutrina são incontestavelmente devidos à vulgarização de suas ideias. A Ciência diz que a água é um dos principais condutores de energia que existe, e os espíritos a utilizam para transmitir aos enfermos as energias de que necessitam para obter alívio de suas dores físicas e espirituais. Na Doutrina Espírita o codificador, em O Livro dos Médiuns, refere-se à ação dos espíritos sobre a matéria elementar, podendo modificar as suas propriedades. O elemento aquoso é escolhido pelos benfeitores espirituais para derramarem os seus fluídos magnetizados, tornando-o medicação espiritual. Na obra O Consolador, o insigne Emmanuel preconiza: “como um excelente condutor de energia, a água, quando fluidificada, transmite a quem a ingere os recursos magnéticos necessários ao seu equilíbrio psicofísico”. Allan Kardec, na obra O Livro dos Espíritos, item 555, ainda clarifica: “O Espiritismo e o Magnetismo (Animal) nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostram a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, pois constitui o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas porque revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice.” Assim, a água é um meio de tratamento utilizado pela espiritualidade, porquanto canaliza a Luz Divina por meio da energia eletromagnética ao irradiar energia para as células do veículo físico.

Água fluidificada ou água magnetizada?

O termo "água fluidificada" é pleonasmo, pois a Física define água como fluido. Assim, como se fluidifica algo que já é um fluido? O termo magnetizado surgiu no Movimento Espírita Brasileiro, visto que a água não é capaz de reter campos magnéticos, porém pode ser magnetizado, segundo pesquisas realizadas. A ação de reter um campo magnético é diferente da ação de magnetizar. A codificação espírita esclarece que pelo ato do olhar ou simplesmente pela ação da vontade superior a água pode ser magnetizada. No entanto, o líquido energizado não interrompe os resgates espirituais que fazem parte do aprendizado da evolução individual, mas auxilia a ação dos medicamentos nas doenças psicossomáticas. No livro Segue-me, de Emmanuel, o nobre orientador recomenda: “se desejas o concurso dos Amigos Espirituais, na solução dos teus problemas de saúde, coloca o teu recipiente de água cristalina à frente das tuas orações, espera e confia. O orvalho do plano divino magnetizará o líquido com raios de amor, em forma de bênção, e estarás, então, consagrando o sublime ensinamento do copo de água pura, abençoado nos céus”.

Água na vida espiritual

Na obra Nosso Lar, cap. 10, Bosque das águas, o missionário André Luiz relata, com veemência, o volume do Rio Azul como reservatório da colônia espiritual: “[...] Na Terra quase ninguém cogita seriamente de conhecer a importância da água. Em Nosso Lar, contudo, outros são os conhecimentos. [...] Conhecendo-a mais intimamente, sabemos que a água é veículo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer natureza. Aqui, ela é empregada sobretudo como alimento e remédio. [...] O homem é desatento, há muitos séculos [...] o mar equilibra-lhe a moradia planetária, o elemento aquoso fornece-lhe o corpo físico, a chuva dá-lhe o pão, o rio organiza-lhe a cidade, a presença da água oferece-lhe a bênção do lar e do serviço; entretanto, ele sempre se julga o absoluto dominador do mundo, esquecendo que é filho do Altíssimo, antes de qualquer consideração. Virá tempo, contudo, em que copiará nossos serviços, encarecendo a importância dessa dádiva do Senhor. Compreenderá, então, que a água, como fluido criador, absorve, em cada lar, as características mentais de seus moradores. A água, no mundo, meu amigo, não somente carreia os resíduos dos corpos, mas também as expressões de nossa vida mental. Será nociva nas mãos perversas, útil nas mãos generosas e, quando em movimento, sua corrente não só espalhará bênção de vida, mas constituirá igualmente um veículo da Providência Divina, absorvendo amarguras, ódios e ansiedades dos homens, lavando-lhes a casa material e purificando-lhes a atmosfera íntima [...]”.

 

Importância da água no organismo humano

 

A água é um componente essencial dos tecidos corpóreos. Serve como solvente para minerais, vitaminas, aminoácidos, glicose e outras moléculas pequenas. É essencial para os processos fisiológicos de digestão, absorção e excreção, conquanto desempenha papel-chave na estrutura e função do sistema circulatório quanto atua como transporte para os nutrientes e todas as substâncias corpóreas. A água mantém a constância física e química dos fluidos intracelulares e extracelulares; possui papel direto na manutenção da temperatura do corpo; absorve choque dentro dos olhos, espinha dorsal, articulações e saco amniótico que circunda o feto dentro do útero, bem como lubrifica os tecidos que são umedecidos com muco. O organismo humano não possui condições para o armazenamento de água, portanto a quantidade de água perdida a cada 24 horas deve ser reposta para manter a saúde orgânica. Repõem-se a água por meio de alimentos como leite, iogurte, frutas, vegetais e preparações que contenham o líquido.  Indispensável conhecer os benefícios da Crenologia na saúde humana como tratamento preventivo ou mesmo curativo das águas minerais.

Indagações sobre a magnetização das águas

Passe magnético e água magnetizada igualmente são conhecidos como fluidoterapia espírita. Passe é transfusão de energias psíquicas e espirituais que alteram o campo celular. Não é uma técnica, mas ato de amor. Não foi inventado pela Doutrina Espírita, porém foi estudado por ela. Jesus utilizava-o nos processos de cura. O passe atua como revitalizador do corpo físico e perispiritual; dispersa fluídos negativos e auxilia na cura das enfermidades. Água magnetizada é a água natural acrescida de fluídos curadores que são introduzidos pelos espíritos amigos, bem como pelo passista.

1º) Para magnetizar a água é preciso haver uma reunião especial? Não. A magnetização independe de reuniões especiais, assim como não depende da presença de médiuns curadores. Pode ser feita na agremiação espiritista ou na própria residência. 2º) Qualquer indivíduo pode magnetizar o líquido? Sim. Comumente são os espíritos desencarnados que magnetizam a água; contudo, qualquer coração de boa vontade pode fazê-lo. Basta deixar um recipiente aberto ou lacrado para esse fim. Deve-se fazer uma prece espontânea e, para finalizar, agradecer a Providência Divina.   

Validação científica

Masaru Emoto, cientista japonês, consagrado autor das obras “Mensagens da Água” e “As Mensagens Ocultas na Água”, declarou sobre suas teses: “A Física não pode negar que tudo na existência vibra, ou seja, tudo é energia. A água vibra e os cristais hexagonais presentes na água representam a força viva da natureza, logo, a ausência desses cristais pode significar que a força da vida nessa área foi energeticamente comprometida”. Segundo suas pesquisas, a água exposta a pensamentos positivos e a música clássica apresenta cristais hexagonais parecidos aos cristais da neve; contudo, as de pensamentos e de palavras negativas apresentam cristais deformados. Percebeu, dessa forma, que a água não só recolhe informações, como também é sensível a sentimentos e a estados de consciência. Pesquisas também elaboradas pelo Dr. Bernard Grad, bioquímico e pesquisador da Universidade de McGill, em Montreal, acerca da imposição das mãos na magnetização da água, atestaram que o líquido, quimicamente verificado, alterou-se. Nas análises de espectroscopia de infravermelho foram detectados significativas mudanças. O ângulo de ligação atômica da água havia sido ligeiramente alterado, bem como notou-se a diminuição na intensidade das ligações por pontes de hidrogênio entre as moléculas de água. Igualmente houve significativa diminuição na tensão superficial... Certamente, a comunidade científica terrena tem realizado progressos notáveis no tocante a compreensão do invólucro humano, quanto tem desvendado alguns mistérios da natureza e do cosmos. Entretanto, aguardemos mentes mais atinadas despontarem no horizonte da existência, ajustados às verdades espirituais, para abrirem outras fronteiras do conhecimento. Afiançou o Divino Enviado: “nada há de oculto que não venha a ser revelado, e nada em segredo que não seja trazido à luz do dia.” Jesus (Marcos, 4:22)      

 

Artigo: Abihel / Jorge   

                  

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Em torno da obsessão

O vocábulo obsessão deriva do latim obsessĭo e quer dizer assédio, ideia fixa, perturbação anímica. Na Psicologia (perturbação anímica) traduz-se por pensamentos, memórias e imagens que surgem de forma involuntária e se repetem na mente humana com persistência. Na Doutrina Espírita é compreendida como enfermidade psíquica, conquanto é “[…] o domínio que alguns Espíritos exercem sobre certas pessoas. Ela é praticada pelos Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os Espíritos bons não impõem nenhum constrangimento. […].” (Allan Kardec, O livro dos médiuns, cap. XXIII, item 237). As causas da obsessão variam de acordo com o caráter da criatura. Para respondermos sobre o tema "obsessão", é preciso que indaguemos a nós mesmos: O que tenho feito nos últimos anos de meu livre-arbítrio nesse ir e vir rotineiro? Para onde meus pés estão me conduzindo? Os lugares que frequento são apropriados para minha alma? Tenho respeitado a todos na pessoa de mim mesmo ou extrapolo meus limites com as companhias em derredor? Como interpreto entretenimento nessas ocasiões? Estou sóbrio em meu mundo mental ou percebo que há pensamentos negativos que invadem meu cerne e tentam me controlar?  Desejo esclarecer-me de forma genuína para não mais errar ou simplesmente aspiro me livrar da situação-problema que me incomoda nesse momento?

Irmãos e simpatizantes da doutrina, as indagações íntimas necessitam de respostas sinceras por parte do hospedeiro/obsidiado. Nessa condução sabemos se dirigimos a nossa existência de forma segura ou se os hábitos tendenciosos é quem administram nossos passos no cotidiano. As ambiências da qual fazemos parte são polos que atraem os espíritos à nossa volta. O termo exato nesse vínculo é conhecido por sintonia, semelhança de ideias, gostos e sentimentos característicos. É forçoso compreender que o ser humano moralizado, ou que se empenha em transformar a si mesmo neutraliza naturalmente as investidas dos maus espíritos. À medida que se agrava o quadro da interferência, a vontade do obsidiado/hospedeiro perde o comando próprio, na razão direta em que a mente invasora assume a direção. Ao criarmos uma atmosfera moral em derredor, permitimos apenas o acesso dos bons espíritos em nossa intimidade. Para libertarmos dessa conexão é preciso apelar com seriedade ao anjo tutor, eliminarmos velhas inclinações, mostrarmos mais tolerância diante da vida, investirmos no bem onde quer que estejamos e orarmos pelos que nos perseguem e fazem mal. Quando o obsessor se convencer que perdeu tempo, deixará de incomodar a vida do hospedeiro. Façamos isso e libertar-nos-emos do jugo inimigo.     

 

Complemento: Em torno da obsessão

Compreendamos que a vida se assemelha a um carro em alta velocidade... No veículo da existência humana a criatura é quem deve estar na própria direção. Nessa estrada, acelerando de forma irresponsável, seremos carros desgovernados, conquanto colocaremos a vida de outrem e de entes queridos em perigo iminente. Agora, ao respeitarmos os limites de velocidade, respeitaremos a todos na pessoa de nós mesmos. Evitemos os “atalhos” no percurso para não resvalarmos na imprevidência. Se o fizermos, enfrentaremos situações-problemas na viagem. Afetaremos, irremediavelmente, o destino de chegada com sobressaltos, lágrimas pungentes, sofrimentos, inimizades gratuitas e, acima de tudo, atrasaremos o curso de nossa evolução espiritual. Para assegurarmos boa viagem na presente reencarnação, temos de ampliar a consciência em torno dos passos... Consciência aqui equivale a desenvolver raciocínio crítico, monitorar a ansiedade e estado de carências, desvencilharmos dos excessos de bagagem levados por nós, que são egos e implante das convenções sociais, bem como estarmos no centro de nós mesmos. Seguindo esse roteiro seguro com confiança em Deus e na Providência Divina alcançaremos o porto da felicidade e da paz íntima. 

É preciso interpelar a nós mesmos: Como interpretamos a definição de responsabilidade diante da vida na existência humana? Nessa resposta reflexiva há que se ter o ingrediente maior, a EMPATIA. Quando aprendermos a coletar dados de nossa jornada de forma aclarada, então, compreenderemos como o processo enfermiço da obsessão se instala em nós.

Artigo: Abihel / Jorge   

                  

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Escolha judiciosa

“Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” Paulo (1 Coríntios, 6:12)

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” (Francisco Cândido Xavier)

A Doutrina Espírita assevera que Deus criou os espíritos simples e ignorantes, porém perfectíveis e com igual aptidão para evoluírem. Simples quer dizer despido do desenvolvimento da vontade e ignorante, que não aprimorou a razão. Nessa jornada da elevação espiritual o Autor da Vida concedeu-lhes o livre arbítrio e o desenvolvimento da inteligência para aprimorarem os valores superiores da alma. Por livre-arbítrio compreende-se a capacidade de escolher, dentre as alternativas que surjam em determinada circunstância, ser a mais conveniente para traçar o próprio caminho. Por que então, as escolhas do homem, amiúde, são insensatas e acabam prejudicando-o? Porque nem tudo o que julga ser o mais adequado é, verdadeiramente, o mais apropriado à sua integridade mental e seu bem-estar; o grau dessa percepção depende do conhecimento adquirido, de experiências entesouradas na alma e do quanto aprendeu sobre as virtudes (moral e intelectual) que deve incorporar na senda de seu progresso espiritual. Se as decisões são errôneas no primeiro intento, é porque não foram contabilizados seus efeitos. Faltando maturidade e avaliação de conjunto, a criatura sofre o percalço das consequências. Assim, as escolhas judiciosas determinam quem de fato é o homem. E a estrada a ser percorrida é quem ditará o seu futuro. As escolhas formam a índole do ser e essa hombridade é o resultado de sua conduta. Platão acentuou: “Somos o resultado de nossas escolhas”. E podemos acrescentar: “Mas também somos prisioneiros das consequências, pois toda ação provoca uma reação.” O estado de contentamento que a criatura fez jus revela o uso acertado do livre-arbítrio, porquanto foi forjado na autorresponsabilidade. Não olvidemos que a semeadura é livre, porém a colheita é compulsória, como esclarece a seara evangélica. É razoável que os homens compreendam sobre os próprios atos que praticam, ainda que obedeçam às convenções sociais, é imprescindível examinar a própria contribuição individual no mecanismo das circunstâncias, posto que é da lei de Deus que a semeadura se desenvolva. O bem semeia a vida e o mal semeia confusão e morte. O primeiro é movimento evolutivo ascensional, o segundo é estagnação, círculo vicioso. A vida é cíclica, portanto, plantamos e colhemos o fruto de nossos atos. É a Lei de causa e efeito. Em o livro Hora Certa, o abnegado Emmanuel traduz em “A escolha é nossa”, o pensamento eminentemente espiritual: "Pensamento é vida. Vida é criação. Criação vem do desejo. Desejo é semente. Semente plantada no terreno da ação traz o fruto que lhe corresponde. Toda semente produz. A escolha é nossa.’" Cabe ao homem agir conscientemente, procurando pautar suas atitudes nas lições do Evangelho que estimulam a prática do bem para não se deixar arrastar pelas tendências inferiores. As escolhas sinalizam sua visão de mundo e o conhecimento que tem de si mesmo, já que incidem diretamente na sua vida particular. Temos na parábola do Filho Pródigo um retrato fidedigno das prioridades do homem em detrimento de outras, visto que há caminhos que levam para os cimos e estradas que conduzem ao abismo. Em o Livro dos Espíritos, questão 258a e 259, Escolha das Provas, o Mestre Lionês interpela a Espiritualidade Maior: Não é Deus quem lhe impõe as tribulações da vida como castigo? Resposta: “Nada acontece sem a permissão de Deus, porque foi ele quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Perguntareis agora por que ele fez tal lei em vez de tal outra! Dando ao Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade dos seus atos e das suas consequências; nada lhe estorva o futuro; o caminho do bem está à sua frente como o do mal. Mas se sucumbir, ainda lhe resta uma consolação, a de que nem tudo se acabou para ele, pois Deus, na sua bondade, permite-lhe recomeçar o que foi malfeito. É necessário distinguir o que é obra da vontade de Deus e o que é da vontade do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós que o criastes, mas Deus criou esse perigo; contudo, tivestes a vontade de vos expordes a ele, porque o considerastes um meio de adiantamento; e Deus o permitiu.” Na análise a que se seguiu, o Codificador reitera a questão, com o espírito crítico que lhe é peculiar: Se o Espírito escolhe o gênero de provas que deve sofrer, todas as tribulações da vida foram previstas e escolhidas por nós? Resposta: “Todas, não, pois não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo o que vos acontece no mundo, até as menores coisas. Escolhestes o gênero de provas; os detalhes são consequências da posição escolhida, e frequentemente de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, já sabia a que deslizes se expunha, mas não conhecia cada um dos atos que praticaria; esses atos são produtos de sua vontade ou do seu livre-arbítrio. O Espírito sabe que, escolhendo esse caminho, terá de passar por esse gênero de lutas; e sabe de que natureza são as vicissitudes que irá encontrar; mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes nascem das circunstâncias e da força das coisas. Só os grandes acontecimentos, aqueles que influem no destino, estão previstos. Se tomas um caminho cheio de desvios, sabes que deves ter muitas precauções, porque corres o perigo de cair, mas não sabes quando cairás, e pode ser que nem caias, se fores bastante prudente. Se, ao passar pela rua, uma telha te cair na cabeça, não penses que estava escrito, como vulgarmente se diz.” Compulsando o Novo Testamento, conforme Lucas 10: 38-42, o discípulo relata que Jesus “estando em viagem, entrou numa aldeia” e, numa residência, é alvo da atenção especial de duas irmãs, Marta e Maria. Ante a presença do Cristo, fazem escolhas diferentes. Marta se fatigava na labuta caseira, Maria, sua irmã, assentada aos pés de Jesus, totalmente absorta, ouvia os Seus ensinos. Bebia cada uma de Suas palavras. Ela sabia que o serviço era secundário. Marta fez tudo para oferecer uma boa acolhida ao seu hóspede celeste. Era uma visita importante e, por isso, merecia o melhor. Assim, ela se esmerou para apresentar-lhe uma calorosa recepção. Enquanto realizava o serviço, pensava, murmurava e censurava a atitude da irmã sobre a lição da escolha certa. O Senhor, percebendo os pensamentos que iam na alma, elucidou: “Marta, Marta tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, que nunca lhe será tirada”. Estudando o problema da alternativa no círculo das experiências humanas, o texto faz uma silenciosa advertência sobre o poder da escolha. Lembremo-nos de que a vida é um sistema de aprendizado e um repositório de experiência; entretanto, quando o homem souber governar o carro de sua existência pelas escolhas judiciosas que fizer, não haverá mais desconforto e arrependimentos de uma existência retraída. Em se tratando de escolhas e resultados, no terreno das ordenações materiais, reflitamos: “Sejamos cônscios diante das seleções, porquanto se alguém visa apenas o interesse pecuniário, dificilmente servirá bem àqueles que buscam os seus préstimos. É possível que semeie, em derredor, insatisfação e queixas. Assim, tanto casamento quanto profissão existem para atender as necessidades dos indivíduos e da sociedade. Não se deve, pois, melindrar pelos resultados obtidos. Diz a sabedoria divina, "ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará”".

Artigo: Abihel / Jorge

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Fé raciocinada

“Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá”. Jesus (Lucas, 17:6)

“Fé verdadeira é sempre calma. Confere a paciência que sabe esperar, porque estando apoiada na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao fim.” (Allan Kardec)

Etimologia: Fé provém do latim ‘fides’ e significa fidelidade, confiança. Em hebraico é ‘emuná’, firmeza, credibilidade. Em grego é ‘pistia’, acreditar. Consoante os teólogos, é preciso diferenciar o conceito de crença e fé para compreendê-los. Crença é ensinada e partilhada com os outros; fé é experiência individual conjugado a um sentimento intransferível. Pelo viés teológico, crença é disposição subjetiva a considerar algo certo por força do hábito ou das impressões sensíveis. Fé é sintonizar-se com algo maior que deve ser crido e que transcende a própria razão. Por esse motivo, corações são tocados nas suas ações humanitárias, notadamente quando ouvem certas passagens do Evangelho ou quando fazem leitura edificante. Ao passar pelo crivo do raciocínio, a fé apara as arestas da própria crença; porém, se não for suficientemente esclarecida pela luz da razão, culminará na fé cega. No sentido vulgar é crer em si mesmo, ou seja, é a confiança nas próprias forças que torna possível a realização material. Assim, fé é um sentimento inato a todas as criaturas. Em princípio está em estado latente, mas se desenvolve pela ação da vontade humana. Fé raciocinada não rejeita a razão, mas prende-se à verdade sem compactuar com os engodos. Sabe que nas situações difíceis há o amparo do Senhor para enfrentar as adversidades. No passado fé e razão foram lâminas afiadas nas mãos de sacerdotes, filósofos e cientistas. O primeiro instaurou a credulidade cega nas massas populares, o segundo (filósofos e cientistas) suscitou a razão cética da incredulidade. Entretanto, fé não se impõe, não se prescreve, porém se adquire. Fé luminosa é aquela que se centra no amor e na justiça divina, posto que ultrapassou a simples crença religiosa e verticalizou-se para o Alto. Conforme Emmanuel na obra Caminho, Verdade e Vida, cap. 40: “A árvore da fé viva não cresce no coração miraculosamente. A conquista da crença edificante não é serviço de menor esforço. A maioria das pessoas admite que a fé constitua milagrosa auréola doada a alguns espíritos privilegiados pelo favor divino.” Nessa perspectiva há o embasamento de que a fé raciocinada advém dos ensinamentos de Jesus em seu incomparável Evangelho. O Mestre revestiu o conceito de religião com mais clareza ao introduzir o elemento razão nas suas prédicas. Jamais alguém fez tantos apelos ao raciocínio edificado quanto o Divino Amigo. Kardec, conhecedor profundo das ações do rabi, compreendeu que estava defronte de um Educador de almas, pois todos que o ouviam eram comovidos pelas extraordinárias lições. Compulsando o Novo Testamento encontramos a ambiência pedagógica nas tertúlias de seu apostolado. Por isso, a Doutrina Espírita tem a característica de racionalidade e de reviver o Cristianismo na sua pureza original.

Fé insciente versus raciocinada

Fé insciente aceita o falso e o verdadeiro sem análise prévia da razão. Levada ao excesso e assentada no erro produz a intolerância religiosa, segrega os indivíduos, gera violências e é objeto de crendices. Fé cega é comparado a “infância espiritual”, pois caminha no medo, necessita de imagens fortes e se baseia em dogmas que se opõe a ciência. As religiões, ao longo dos séculos, entravaram o desenvolvimento da ciência e dos avanços tecnológicos. Galileu Galilei, físico e matemático foi obrigado a renegar o conhecimento científico diante dos tribunais para evitar a pena capital. Durante os séculos XVI e XVII a Europa tornou-se o palco de diversas guerras entre católicos e protestantes. Desesperados com os conflitos sangrentos desencadeados pela Reforma e a Contrarreforma, os filósofos europeus da segunda metade do século XVII, como Baruch Spinoza (1632-1677) e John Locke (1632-1704), buscavam encontrar uma alternativa para aplacar o fanatismo religioso. Assim, estabeleceram os fundamentos teóricos para a prática da tolerância. Na contemporaneidade o dogma da fé insciente ainda pretende impor-se, exigindo a abdicação das mais preciosas prerrogativas do homem: raciocínio e livre-arbítrio. Não admitindo evidências, implanta nos homens incautos a hesitação e os óbices.

Fé raciocinada apoia-se na razão e fundamenta-se na verdade sem jamais compactuar com a mentira, visto que se adquire a fé robusta pelo conhecimento, trabalho e esforço individual. Em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 1, item 8, lemos o seguinte enunciado: "A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana. Uma revela as leis do mundo material e a outra, as leis do mundo moral. Ambas as leis, tendo, no entanto, o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se, visto que, se uma contrariar a outra, uma terá necessariamente razão enquanto a outra não a terá, já que Deus não destruiria sua própria obra. A falta de harmonia e coerência que se acreditou existir entre essas duas ordens de ideias baseia-se num erro de observação e nos princípios exclusivistas de uma e de outra parte. Daí resultou uma luta e uma colisão de ideias que deram origem à incredulidade e à intolerância." Por apoiar-se nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê porque tem convicção racional, e rendeu-se à evidência dos fatos. A fé, com fulcro na razão, é indispensável para sua consolidação.

Quadro: Fé humana versus fé divina

Fé humana gera interesses materiais, incertezas, fé contemplativa, satisfação das próprias necessidades, engodo, comportamento manipulador e cegueira espiritual. Tomé, discípulo de Jesus, trazia na alma a fé humana. Para crer na ressurreição do Cordeiro necessitou vê-lo e colocar o dedo nas suas chagas. É sabido que muitos cristãos louvam o Cristo somente com os lábios!

Fé divina produz vontade superior, discernimento, determinação, direção edificada vagarosa e conscientemente, destemor, intuição, compreensão da vida futura, fé inabalável. A fé será humana ou divina, segundo a aplicação que o homem der às suas faculdades em relação às necessidades terrenas ou às suas aspirações celestes e futuras. “O homem de bem que, crendo no seu futuro celeste, quer preencher a sua vida com nobres e belas ações, tira da sua fé, da certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda nesse caso se realizam os milagres da caridade, do sacrifício e da abnegação. Por fim, não há más inclinações que, com a fé, não possam ser vencidas. [...] Se todas as criaturas encarnadas estivessem suficientemente persuadidas da força que trazem consigo, e se quisessem pôr a sua vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar o que até hoje chamais de prodígios, e que é simplesmente senão um desenvolvimento das faculdades humanas”. (Evangelho Segundo O Espiritismo, cap. XIX, item 12)

Benefícios da fé na saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) atesta que a fé influencia na saúde física, mental e biológica. A crença pode diminuir os riscos de diabetes, doenças cardiovasculares, respiratórias, infartos, insuficiência renal e acidente vascular cerebral. Em 2004, o São Paulo Medical Journal, da Associação Paulista de Medicina, publicou uma pesquisa que afirma o poder da prece na recuperação de pacientes com câncer. O ato de crer propicia equilíbrio neurofisiológico e hormonal, atua no sistema imunológico e estimula a produção de endorfina, hormônio responsável pelo bem-estar. Ciência e Espiritualidade: Ressentimentos, intemperança, irritações, ciúmes e desespero criam zonas mórbidas de natureza particular no corpo físico, impondo às células as desarmonias pelas quais se anulam quase todos os recursos de defesa, abrindo-se campo fértil à cultura de micro-organismos patogênicos nos órgãos menos imunes. Dessa forma, atormentam o pensamento, proporcionando lesões mentais (espirituais), verdadeiras matrizes de doenças que desembocam no corpo físico. A fé restaura a vitalidade do organismo e, se bem assimilada, contribui para suportar quaisquer desafios existenciais. Consoante a Doutrina Espírita, a razão ancorada na fé encontra Deus.

Artigo: Abihel / Jorge

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Lei de causa e efeito: semeadura e colheita

“E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus. Convém que eu faça as obras daquele que me enviou enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (João, 9: 1-4)

Etimologia: “Causa” provém do latim caussa que significa motivo, razão, origem de algo. Efeito vem de effectum que quer dizer consequência de algo, de uma causa. A relação entre causa e seu efeito é conhecido como causalidade. Para a Doutrina Espírita a lei de causa e efeito rege a marcha evolutiva dos espíritos porque está inserido a justiça divina. Ação e reação espelha o comportamento do indivíduo perante essa lei. Em síntese temos: causa remonta a origem, o porquê da ocorrência; seu efeito é a consequência imediata da ação praticada. Imprescindível que homens e mulheres compreendam a substância dos próprios atos nas atividades diárias, posto que a semeadura é livre, mas a colheita é compulsória e proporcional ao plantio. De forma ainda mais clara, "ação e reação", conhecido como a 3ª Lei de Newton, tem o seguinte enunciado: “A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade...” Lembremo-nos que Allan Kardec não fez uso desse raciocínio, mas do axioma: “não há efeito sem causa.” Uma leitura superficial dos dois princípios leva o leitor a conclusões equivocadas.  É oportuno enfatizar que as Leis de Newton são apenas aplicáveis nos movimentos de velocidade dos objetos e/ou corpos em deslocamento. Suas Leis de Movimento foram publicadas em 1687 no livro "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural". Elas explicitam as causas que alteram o estado de movimento de um corpo. Com o advento do Espiritismo a Lei de Causa e Efeito foi mencionada no século XIX pelo Codificador. Entretanto, somente no contexto moral sua aplicabilidade é apropriada. Daí infere-se que ação e reação seja semelhante a Lei de causa e efeito. Afinal, qual o significado da palavra Lei? Em Filosofia é a relação constante e necessária entre os fenômenos naturais, sociais e entre causas e efeitos.  No campo da moralidade contém os princípios necessários para a regulação da conduta dos homens em fazer o bem e evitar o mal. Analisemos, despretensiosamente, suas discrepâncias nos fundamentos.

Exemplos de Lei de ação e reação segundo Newton: 1) Quando se anda, o homem empurra o chão para trás e o chão empurra o indivíduo para frente. Isso ocorre porque há uma força de atrito entre a superfície dos pés e o chão. 2) Para lançar um foguete ao espaço é necessário que o combustível seja queimado para que os gases possam expandir; dessa forma, a superfície aplica sobre os gases uma força de reação que empurra o foguete para cima. Nesse estudo há cinco critérios para que a 3ª lei de Newton seja devidamente aplicada: as forças aplicadas sobre os corpos têm mesma intensidade; as forças têm a mesma direção - horizontal, vertical ou diagonal; as forças têm sentidos opostos - da direita para esquerda, de cima para baixo; as forças devem ser aplicadas em corpos diferentes; a ação e reação são simultâneas, ou seja, iniciam e terminam no mesmo momento. De forma ortodoxa esse princípio tem sido aplicado para justificar o sofrimento do Espírito reencarnado em qualquer latitude do planeta.

Exemplo de Lei de causa e efeito: Livre-arbítrio, escolha e consequência: Se o homem intencionalmente afana algo alheio, terá de responder às Leis de compensação da vida.  Nessa ação deliberada do livre-arbítrio fez-se uso da escolha que levará o faltante a consequências dos atos. Da ação provocada há uma reação como resposta que pode ser imediata ou reparada no futuro. Nesse sentido, há vários gatilhos sutis de reparação na lei de causa e efeito, porquanto o homem é o resultado de suas ações. Acresce notar que somos hoje o retrato do que fizemos ontem. O amanhã será o corolário desse agora, credor ou devedor. Todo ato moral do homem corresponde a uma reação semelhante na presente reencarnação ou em uma futura. Lemos na parábola do rico e Lázaro, registrado em Lucas, 16: 19-31, a inegável mensagem da lei de causa e efeito atuando sobre o rico por anular as possibilidades do progresso individual em auxiliar os vencidos ou bloquear os germens de sua perfeição. Nesse contexto, a reparação da falta dar-se-á na vida futura. Ei-la na íntegra para reflexão e análise: “Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.” Na esfera coletiva as leis de causa e efeito se aplicam a família, a nação e as raças que formam individualidades coletivas. As faltas igualmente se expiam em virtude da mesma Lei. O Codificador chamou de Código Penal da Vida Futura. “Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquele que se quita numa existência não terá necessidade de pagar segunda vez.” (Kardec, O Céu e o Inferno, cap. 7, Código Penal da Vida Futura, item 9). O Mestre Lionês considera que “a criatura renasce no mesmo meio, na mesma nação, na mesma raça, quer por simpatia, quer para continuar, com os elementos já elaborados, estudos começados, para se aperfeiçoar, prosseguir trabalhos encetados e que a brevidade da vida não lhe permitiu acabar (...) até que o progresso os haja completamente transformado”. Acrescenta que “não se pode duvidar haver famílias, cidades, nações, raças culpadas, porque, dominadas por instintos de orgulho, egoísmo, ambição, enveredam pelo caminho errado, fazendo coletivamente o que um indivíduo faz isoladamente. Uma família se enriquece à custa de outra; um povo subjuga outro povo, levando-lhe a desolação e a ruína; uma raça se esforça por aniquilar outra raça. Essa a razão por que há famílias, povos e raças sobre os quais desce a pena de Talião”. (Kardec, O Céu e o Inferno). Dessa forma, ampliando tanto quanto possível o estudo, deve-se, pois, observar o fundo das mensagens contidas em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, Bem-aventurados os aflitos, pois que tratam das causas anteriores e das aflições atuais, estando de acordo com a Lei de Causa e Efeito.

Espíritas, acautelai-vos dos equívocos de interpretação!

Em João, 9: 1-41, o evangelho narra a passagem do cego de Siloé. Nesse contexto, não há que presumir que o infortúnio físico seja uma falta, posto que é na luz do esclarecimento que se deve compreender o cego de nascença. O desditoso aceitou aquela condição para conquistar uma posição espiritual mais elevada. Nesta apreciação não cabe a exposição de "ação e reação" de Newton, ou a lei de causa e efeito ao afirmar que a dor seja sempre uma reação oposta a uma ação ilícita, porquanto o cego de nascença era isento de culpa. A causa de sua desdita era cooperar com a ‘causa maior’ do Messias. O Codificador da Terceira Revelação conhecia a 3ª Lei de Newton, porém não a usou na apreciação das coisas espirituais. O "bom senso encarnado" percebeu que as leis do movimento de Newton não se aplicavam aos esclarecimentos das aflições humanas. Acompanhemo-lo nesta citação: "Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a consequência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. Se foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilde condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mal filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos, etc." Portanto, o espiritista não deve generalizar o sofrimento como punição ou consequência de erros cometidos. Léon Denis, continuador da obra Kardequiana, assevera: "Todos aqueles que sofrem não são forçosamente culpados em vida de expiação. Muitos são Espíritos ávidos de progresso, que escolheram vidas penosas e de labor para colherem o benefício moral que anda ligado a toda pena sofrida." E adiante: "Às almas fracas, a doença ensina a paciência, a sabedoria, o governo de si mesmas. Às almas fortes, pode oferecer compensações de ideal, deixando ao Espírito o livre voo de suas aspirações até ao ponto de esquecer os sofrimentos físicos". Na obra “Aulas da vida”, cap. Animais em sofrimento, Emmanuel assegura: "[...] imperioso interpretar a dor por mais altos padrões de entendimento. Ninguém sofre, de um modo ou de outro, tão-somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também angariando os recursos preciosos para obtê-la [...]".                

Artigo: Abihel / Jorge

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Mitos na esfera espírita

“e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Timóteo, 4:4)

“Quem não critica o que crê não lapidará suas crenças [...] será servo de suas verdades. E se suas verdades forem doentias, certamente será uma pessoa doente.” (Augusto Cury)

 

Etimologia: Mito advém do grego mythos, que significa fábula, discurso. Também são narrações antigas dotadas de arquétipos humanos nascidos da linguagem oral e religiosa. No que tange aos mitos gregos há que se reconhecer as obras clássicas da poesia épica e poesia trágica. Na Psicologia as alegorias são formas primitivas do homem manter proximidade com sua espiritualidade, sua psique e a natureza. Em O Poder do Mito, de Joseph Campbell, o autor faz analogias das mensagens dos símbolos no mundo contemporâneo desencantado. O estudo retrata a queda do Éden que a religião judaico-cristã condena porque a natureza humana foi corrompida pelo pecado. Essa transgressão criou a impureza e o abismo entre a Divindade e o homem, devendo ser reprimida. Sentenciou-se, assim, que a vida tornar-se-ia um fardo difícil de suportar. Hodiernamente vive-se os valores exteriores em detrimento dos valores internos. Na linguagem das massas o mito tornou-se em crença eivada de relato fictício e preconceitos desprovido de verdade. No Novo Testamento as alegorias são tratadas como mentiras humanas em contraste com a revelação divina da verdade: “nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé” (1 Timóteo, 1:4). Na exegese espírita, Allan Kardec fez um criterioso exame para legar à humanidade uma doutrina que estivesse imune ao atavismo dos vícios religiosos e de seus dogmas. O Espiritismo originou-se da observação e da constatação científica, porquanto não há mitos e dogmas em seus postulados. A fé roga o atributo do raciocínio esclarecido, pois à medida que a alma conhece as leis divinas, que são perfeitas, mais se identifica, conscientiza e confia na justiça e no amor do Criador. A fé é resultado dessa união, conquanto dela nasce o entendimento, e para que haja profitente, é necessário debruçar-se sobre as obras de Allan Kardec a fim de estudá-las com afinco. 

Mitos e fatos doutrinários

Apesar do corpo doutrinário não apresentar mitos em seu cerne, neófitos e inscientes têm desfigurado a alma das obras kardequianas. Deve-se, pois, questionar o mito para racionalizá-lo. Analisemos, despretensiosamente, alguns desses equívocos de interpretação das massas populares acerca dos estudos espíritas. 1) Revelação divina:  Deus é uma ficção criado pelos homens. Mito! Na obra A Gênese, cap. I, Allan Kardec enfatiza que a revelação direta de Deus não é impossível, porém é transmitida pela mediunidade através dos Espíritos Superiores que se imbuem de seu pensamento. Entretanto, não se deve concluir daí que todos os médiuns sejam reveladores e, muito menos, intermediários diretos da Divindade ou de seus mensageiros. Os Espíritos não ensinam senão o necessário para guiar o homem ao caminho da verdade, mas abstêm-se de revelar o que o homem pode descobrir por si mesmo, deixando-lhe o cuidado de discutir, verificar e submeter tudo ao cadinho da razão. Assim, a revelação espírita progride com a ciência ao assimilar novas descobertas, porquanto jamais será obsoleta. 2) Mediunidade: Afirmam alguns que mediunidade é nocivo, pois é um tipo de doença. Mito! Na obra O Livro dos Médiuns, cap 18, item 221.1, há a seguinte indagação: A faculdade mediúnica é indício de algum estado patológico ou simplesmente anormal? “Às vezes anormal, mas não patológico. Há médiuns de saúde vigorosa. Os doentes o são por outros motivos”. No item 5 tem-se outro complemento: Poderia a mediunidade produzir a loucura? “Não mais do que qualquer outra coisa, desde que não haja predisposição para isso, em virtude de fraqueza cerebral. A mediunidade não produzirá a loucura, quando esta já não exista em gérmen; porém, existindo este, o bom senso está a dizer que se deve usar de cautelas, sob todos os pontos de vista, porquanto qualquer abalo pode ser prejudicial.” Assim, mediunidade é uma ferramenta de comunicação com a espiritualidade que a criatura recebe ao renascer. Se bem administrada tem-se a evolução espiritual. 3) Desenvolvimento mediúnico: Caso não se desenvolva os talentos mediúnicos o médium sofre a pressão de seus guias espirituais. Mito! Não confundamos mediunidade com processo obsessivo. O desenvolvimento mediúnico permite que o médium se torne um filtro do plano espiritual. Há que se destacar três etapas para afloração da faculdade: instrução preliminar da doutrina, reforma moral, sintonia dos bons pensamentos. É indispensável que se eleve o nível intelectual e o amor a doutrina. Consoante a questão 473 d’O Livro dos Espíritos, nota-se a oportuna resposta: “O Espírito não entra num corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de agirem conjuntamente. Mas é sempre o Espírito encarnado quem atua, conforme queira, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, pois este terá que permanecer ligado ao seu corpo até o termo fixado para sua existência material.” 4) Mentor espiritual: Não se pode questionar os guias espirituais porque são superiores aos médiuns e aos homens. Mito! Temos na Primeira Epístola de João, 4: 1 a exortação espiritual: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora.” Conforme o preclaro André Luiz na obra Conduta espírita: “Ponderar com especial atenção as comunicações transmitidas como sendo da autoria de algum vulto célebre, e somente acatá-las pelos conceitos com que se enquadrem à essência doutrinária do Espiritismo.” Os espíritos guias ou mentores não são infalíveis, conquanto cumpram papel relevante na evolução da humanidade. É mister que se examine as mensagens sob o crivo da razão. 5) Fenômeno de incorporação: O espírito se ‘apossa’ do corpo do médium nas reuniões doutrinárias. Mito! A psicofonia é o fenômeno mediúnico pelo qual o médium empresta seu aparelho fonador para comunicação do espirito. No sentido semântico do termo não há incorporação, pois nenhuma entidade pode se empossar do corpo de outro indivíduo. Uma das leis da Física enfatiza que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Assim, não se justifica que o espírito se “apossa” do corpo do médium. Ocorre que o médium e o espírito permutam uma sintonia psíquica de perispírito a perispírito, mente a mente, porquanto dá-se a impressão de que há a incorporação efetiva. Na mediunidade aprimorada o médium tem controle de sua faculdade, visto que o fenômeno mediúnico é mental. 6) Trabalho forte: Há trabalhos espíritas que são considerados mais forte do que outros. Mito! Evitemos os credos bizarros que soluciona tudo sem o devido discernimento doutrinário. Esclarecer-se, ainda, é quesito fundamental para o espiritista previdente. 7) Causa e efeito:  Deve-se aceitar a sanção rigorosa de Deus nas leis de causa e efeito aos homens. Mito! Compreendamos que a sabedoria divina rege o Universo e tudo está subordinado a essa Lei. Dessa forma, não é castigo celestial e tampouco punição desumana, porém uma forma de educar a alma. A desdita é resultado do mal uso do livre arbítrio, porquanto o sofrimento cessa com o arrependimento e a reparação da falta. Diz o adágio popular: “A semeadura é livre, mas a colheita é compulsória.” 8) Reencarnação x Erraticidade: Após a morte física os espíritos vagam sem rumo. Mito! Ao contrário do que se pensa, os espíritos não ficam vagando fora do tempo e do espaço, mas se reúnem em lugares coletivos a fim de interagirem. Erraticidade, na linguagem espírita, traduz-se por estado espiritual ou uma condição de existência em que os desencarnados passam entre uma encarnação e outra. Não deve ser confundida com o umbral nem com o estado dos espíritos extremamente inferiores. A morte apenas liberta a alma do corpo, porém cabe ao espírito promover o próprio progresso, conquanto a natureza não dá saltos. Na erraticidade os espíritos se agrupam e formam centros de convivência de acordo com as simpatias e vibrações em comum. Nas obras do abnegado médium Francisco Cândido Xavier as ambiências são conhecidas como colônias espirituais. Compulsemos n’O Livro dos Espíritos as questões 149 a 165 e 223 a 329 e compreenderemos a organização da vida espiritual. 9) Vestes brancas:  Roupas brancas atraem espíritos elevados. Mito! A Doutrina Espírita enfatiza a importância do pensamento e dos sentimentos como base de sintonia com a Espiritualidade Maior. Sintonia não é fruto de uma mera casualidade, mas sim de uma vigilância constante dos pensamentos. Deve-se primar pela ascendência moral em vez de amuletos e vestuários no fenômeno mediúnico. Muito embora devamos respeitar os credos religiosos em derredor, a indumentária do cristão sincero é a sua reforma interior. 10) Água magnetizada ou fluidificada: Se o recipiente estiver fechado a água não receberá os eflúvios do Alto. Mito! Na obra O Livro dos Espíritos, questão 91, encontramos a indagação: A matéria faz obstáculo aos espíritos? “Não; eles penetram em tudo: o ar, a terra, as águas e mesmo o fogo lhes são igualmente acessíveis.”  Portanto, não é preciso deixar exposto o líquido do recipiente. É recomendável, quando se queira, apor o nome do beneficiário no receptáculo. A água, em face da sua constituição molecular, é elemento que absorve e conduz a bioenergia que lhe é ministrada. Quando magnetizada e ingerida, produz efeitos orgânicos compatíveis com o fluido de que se faz portadora. O estudo sistemático do espiritismo elimina a insciência da alma. 11) Conformismo material: Espiritismo preconiza o conformismo do homem diante da miséria social. Mito! Nas conclusões teóricas dos fatos confundem resignação espírita com conformismo religioso. Consoante o livro O homem novo, de J. Herculano Pires, o espírita, efetivamente, não é conformista: “A resignação espírita decorre, não de uma sujeição místico-religiosa a forças incontroláveis, mas de uma compreensão do problema da vida. Quando o espírita se resigna, não está se submetendo pelo medo, mas apenas aceitando uma realidade à qual terá de sujeitar, exatamente para superá-la, para vencê-la. Não é, pois, o conformismo que se manifesta nessa resignação, mas a inteligente compreensão de que a vida é um processo em desenvolvimento, dentro do qual o homem tem de se equilibrar. [...] O Espiritismo é a doutrina da despersonalização humana (que é sublimação da personalidade). [...] Quando o Espiritismo ensina a conformação diante da doença e da morte, o perdão das ofensas e das traições, nada mais está fazendo do que repetir as lições evangélicas. [...] cabe ao homem, nesse terreno, como em todos os demais, lutar para vencê-la. O Espiritismo, longe de ser uma doutrina conformista, é uma doutrina de luta. O espírita luta incessantemente, dia e noite, para superar o mundo e superar-se a si mesmo. Conhecendo, porém, o processo da vida e as suas exigências, não se atira cegamente à luta, mas procurando realizá-la com inteligência num constante equilíbrio entre as suas forças e o poder dos obstáculos.” 12) Pureza doutrinária: Deve-se zelar ‘ardentemente’ pela pureza doutrinária. Mito! Paulo de Tarso a pretexto de seguir uma pureza doutrinária dos princípios mosaicos, perseguiu cristãos e conduziu Estevão à morte por apedrejamento. Aprisionado a errônea interpretação de Pureza Doutrinária, impôs seu comando altivo. Pureza Doutrinária solicita o alargamento do próprio raciocínio sem se resvalar na intransigência, preconceito e fanatismo doutrinário. Tem de ser exemplificado no carisma dos médiuns, doutrinadores e dirigentes ponderados, senão toda a estrutura fracassa.  Acautelemo-nos, pois, com os mitos engendrados no espiritismo cristão que desvirtuam os seus ensinamentos por falta de conhecimento um tanto mais adensado. Nas reuniões espiritistas preza-se pelo amor aos postulados do Divino Enviado, a humildade sincera, o respeito às crenças, a compreensão entre os homens e o estudo sistematizado das obras de Allan Kardec, que são O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o InfernoA Gênese.  

Artigo: Abihel / Jorge

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Musicoterapia para a alma

“[...] uma dissertação sobre a música celeste! Quem poderia disto se encarregar! Que Espírito sobre-humano poderia fazer vibrar a matéria em uníssono com essa arte encantadora? Que cérebro humano, que Espírito encarnado poderia dela retirar as nuanças variadas ao infinito?... Quem possui a esse ponto o sentimento da harmonia? [...]” (Allan Kardec, Revista Espírita, Espírito de Gioacchino Antônio Rossini, 1868) 

Etimologia: A palavra música advém do grego mousikê e significa arte das musas. Para os gregos a música tinha um sentido mais amplo do que o mundo contemporâneo conhece. A arte de extrair sons de instrumentos artesanais estavam ligadas as divindades, as belas artes, a vida social e as manifestações culturais. O vocábulo terapia vem do grego therapeia, que significa ato de curar ou ato de reestabelecer. Musicoterapia é uma modalidade terapêutica que se utiliza da música e seus elementos para propiciar melhoria da saúde física, mental e espiritual do homem. A partir do século XVIII passou a ocupar um lugar entre as terapias que tocassem o sensorial humano, e assim iniciaram-se as investigações sobre seus efeitos no veículo físico. Sabe-se que ela carreia, em si mesma, alegria, memória de lugares e recordações dos momentos vividos. Destaquemos que, sendo superior ao prazer humano, a alegria tem o poder divino de transfigurar a tristeza em tristeza-esperança. A Organização Mundial da Saúde vinculou a musicoterapia com as ciências que estudam o homem em seus aspectos biopsicossocioespirituais. Consoante o douto Allan Kardec: “A música comove as fibras entorpecidas da sensibilidade e as predispõe a receber as impressões morais. [Ela] amolece a alma, pois é poderosa auxiliar da moralização.” (Revista espírita, setembro de 1864). Léon Denis, um dos principais divulgadores da Doutrina Espírita, na obra O Espiritismo na arte, p. 71, aclara, com belas notas celestes, os eflúvios dos acordes invisíveis aos ouvidos das almas superiores: “A música é a voz dos céus profundos. No espaço tudo se traduz em vibrações harmônicas e certas classes de espíritos comunicam-se entre si apenas por meio de ondas sonoras. Na Terra, a sinfonia e a melodia não são mais que ecos débeis e deformados dos concertos celestes. Nossos instrumentos, mesmo os mais perfeitos, sempre têm qualquer coisa de mecânico e de áspero, enquanto que os sistemas de emissão do espaço produzem sons de uma delicadeza infinita. Eis por que, em todos os graus da escala dos mundos e da hierarquia dos espíritos, a música tem um lugar importante nas manifestações do culto que as almas rendem a Deus. Nas esferas superiores, ela se torna uma das formas habituais da vida do ser, que se sente mergulhado em ondas de harmonia de uma intensidade e de uma suavidade inexprimíveis. Por ocasião das grandes festas no espaço, dizem nossos guias espirituais, quando as almas se reúnem aos milhões para prestar homenagem ao Criador, na irradiação de sua fé e de seu amor, delas escapam eflúvios, radiações luminosas, que se colorem de cores combinadas e se convertem em vibrações melodiosas. As cores se transformam em sons e, dessa comunhão dos fluidos, dos pensamentos e dos sentimentos, emana uma sinfonia sublime, à qual respondem os acordes longínquos vindos das esferas, dos astros inumeráveis que povoam a imensidão. Então, do alto descem outros acordes, mais potentes ainda, e um hino universal faz céus e terras estremecerem. Ao perceber esses acordes, o espírito se desenvolve, se expande; ele sente que vive na comunhão divina e entra em um arrebatamento que chega ao êxtase.” Mais adiante, nas p. 77 e 80, o eminente filósofo assinala as impressões de arte e beleza na alma nobre, em contraste com a música dos espíritos vulgares: “[...] o som, o ritmo e a harmonia são forças criadoras. Se pudéssemos calcular o poder das vibrações sonoras, avaliar sua ação sobre a matéria fluídica, chegaríamos a um dos segredos da energia espiritual. [...] quando a música é sustentada por nobres palavras, a harmonia musical pode elevar as almas até as regiões celestes. [...] Porém, unida a palavras imorais, a música torna-se um instrumento de perversão que precipita a alma na baixa sensualidade e é uma das causas da corrupção dos costumes da nossa época.” Recomenda-se, dessa forma, a implantação da musicoterapia nas agremiações espiritistas. Pela sonoridade no ambiente a música atrai tanto espíritos benévolos quanto imperfeitos pelos arranjos na letra e ritmação de suas notas. Esses arranjos criam uma atmosfera propícia que os identificam. Na obra Nosso Lar, André Luiz faz o seguinte relato no cap. 45: “Governador da Colônia Espiritual determina a utilização da música a fim de intensificar o rendimento do serviço, em todos os setores de esforço construtivo.” O livro revela o Campo da Música: “[...] em cujas extremidades há melodia para todos os gostos. Impera, porém, no centro a música universal e divina, a arte santificada por excelência, que atrai multidões de Espíritos, ao contrário do que se verifica na Terra.” Descreve um gracioso coreto (um corpo orquestral de reduzidas figuras que executa música ligeira): “Nossos orientadores, em harmonia, absorvem raios de inspiração nos planos mais altos, e os grandes compositores terrestres são, por vezes, trazidos às esferas como a nossa, onde recebem algumas expressões melódicas, transmitindo-as, por sua vez, aos ouvidos humanos, adornando os temas recebidos com o gênio que possuem.”

Música interage no cérebro

Por se tratar de aparelho complexo, atentemos às regiões do cérebro que sofrem influência direta da música: Corpo caloso: O corpo caloso é uma estrutura cerebral que conecta os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo. Sua função é transferir informações de um hemisfério ao outro. Sob a influência da música, a área se ativa, além do normal. Córtex sensorial: O córtex sensorial é responsável pelo processamento de informações sensoriais, assim como o tato, visão e audição. Nele há uma série de neurônios sensoriais que traduzem as informações coletadas para o cérebro. Sob a influência da música, a área do cérebro controla a resposta tátil quando tocamos instrumentos ou quando dançamos. Córtex auditivo: O córtex auditivo é quem “escuta” os sons e os processa na mente. É ele quem percebe as variações de tom, ritmo e melodia. Córtex motor: O córtex motor também está envolvido no processo de resposta tátil quando dançamos e tocamos instrumentos. Córtex pré-frontal: O córtex pré-frontal é a parte anterior do lobo frontal do cérebro e está relacionada ao planejamento de comportamentos e pensamentos complexos, expressão da personalidade, tomada de decisões e modulações de comportamento social. A música ativa essa área do cérebro e há a influência da música na personalidade. Córtex visual: O córtex visual é responsável pelo processamento das informações visuais. É uma área bastante ativa sob a influência de música. Afinal, quem ouve música sabe das imagens ou visualizações que vem à cabeça! Cerebelo: É a parte do cérebro responsável pela manutenção do equilíbrio, do controle do tônus muscular, dos movimentos voluntários e dos processos das funções motora.  Hipocampo:  O hipocampo é uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro humano. É a principal sede da memória. Componente do sistema límbico, é de fundamental relevância para a navegação espacial. A música faz a conexão com as emoções porque despertam as memórias profundas. Amigdala: As amígdalas são um grupo de neurônios que, juntos, formam o polo temporal do hemisfério cerebral. Essa região do cérebro faz parte do sistema límbico e é importante regulador do comportamento sexual, do comportamento agressivo, das respostas emocionais e da reatividade a estímulos biológicos. A música toca essa área de forma extraordinária.

 Música e emoções humanas

Música é a combinação de elementos sonoros que são percebidos pela audição. Elas interferem na plasticidade cerebral e favorecem conexões entre neurônios na área frontal do cérebro que estão relacionados aos processos de memorização e atenção, visto que estimulam a comunicação entre os dois hemisférios do cérebro. Isso explica a relação com o poder do raciocínio e a matemática. O ser humano é essencialmente musical no ritmo corporal e no ritmo fisiológico, já que a música é importante no neurodesenvolvimento da criança quanto nas funções cognitivas. Do ponto de vista psíquico, a música acompanha os momentos emocionais das individualidades como as canções de ninar até a música fúnebre, pois que constroem as relações de afeto. A atividade musical envolve quase todas as regiões do cérebro e os sistemas neurais. Nos exames de imagem cerebral vê-se que a música ativa estruturas das regiões cerebelares, que são responsáveis pela produção e liberação dos neurotransmissores: dopamina e noradrenalina, principalmente da amídala, que é a principal área do processamento emocional. O ato é capaz de ativar a região do hipocampo responsável pelas memórias, bem como o córtex frontal inferior. Para a execução de músicas são acionados os lobos frontais, tanto por meio do córtex motor quanto pelo sensorial. O cérebro humano é formado por três partes: o arquicérebro ou cérebro reptiliano comum a todos os animais, o sistema límbico, que é aquisição evolutiva nos mamíferos, e o neo-cérebro ou cérebro cortical presente em seres biologicamente mais evoluídos como símios, baleias, golfinhos e o homem. O ritmo está relacionado ao cérebro reptiliano, um sistema comum a todos os animais, responsável pelo instinto. Músicas de ritmo básico ou primário como batuque ou ritmo eletrônico estimulam a parte reptiliana do cérebro humano, visto que é bastante primitivo por entorpecer as emoções mais sublimes. As músicas mais elaboradas e melodiosas provocam o lado emocional do cérebro como as músicas clássicas e românticas. Esse tipo de música ativa igualmente o sistema límbico, que está relacionado com a intuição e o sentimento. O compositor italiano Rossini, autor de músicas sacras, músicas de câmara e de mais de trinta óperas, dentre elas O barbeiro de Sevilha e Cinderela, escreveu: “A influência da música sobre a alma, sobre o seu progresso moral, é reconhecida por todo o mundo. A harmonia coloca a alma sob o poder de um sentimento que a desmaterializa. Tal sentimento existe num certo grau, mas se desenvolve sob a ação de um sentimento similar mais elevado. A música exerce uma influência feliz sobre a alma. E a alma, que concebe a música, também exerce sua influência sobre a música. A alma virtuosa, que tem a paixão do bem, do belo, do grande, e que adquiriu harmonia, produzirá obras-primas capazes de penetrar as almas mais encouraçadas e de comovê-las”.  

Benefícios à saúde

Estudos científicos comprovaram que a música ativa certas regiões do cérebro que estão envolvidas no movimento, planejamento, atenção, aprendizado e memória. A música também libera dopamina, visto que melhora o humor e reduz a ansiedade, fortificando o sistema imunológico ao aliviar dor e ansiedade. E mais, quando cirurgiões ouvem suas músicas prediletas, suas performances melhoram em eficiência. A música ajuda na produção do hormônio cortisol, que está relacionado ao estresse. Melhora a glicose no cérebro e ainda aumenta a disponibilidade de substâncias necessárias para a reparação de tecidos cerebrais danificados. Quando se ouve música que se aprecia, ela faz baixar a pressão cerebral; auxilia os que sofrem de dor de cabeça crônica, como também ajuda as crianças que sofrem de epilepsia, diminuindo suas convulsões; previne o desenvolvimento de zumbido crônico no ouvido; melhora a duração e intensidade da concentração; melhora o desempenho em tarefas repetitivas. Ouvir música clássica antes de dormir reduz a insônia; crianças com TDAH têm desempenho melhor em matemática. Os conhecimentos atuais sugerem que a música pode ser aplicada em quatro funções terapêuticas: na melhora da atenção ao estimular o desenvolvimento motor e cognitivo; nas habilidades comunicativas e na expressão emocional e existencial. Segundo pesquisas, a musicoterapia poderá ser um recurso terapêutico e preventivo para diversas enfermidades neurológicas e psíquicas.

Musicoterapias recomendadas

Sons da natureza; new age/nova era; sons para meditação e músicas clássicas. Bach, por exemplo, ajuda no aprendizado e memória. Rossini, Guilherme Tell e Wagner, com as Valquírias, auxiliam no tratamento da depressão. Valsas de Strauss contribuem para maior relaxamento, conquanto são indicadas para parturientes. Marchas são tipos musicais que transmitem calmaria e recarregam o corpo somático. Apesar de envolver ritmos e sons, o intuito é relaxar a mente, porquanto vivemos imersos numa partitura sonora que influi positiva ou negativamente em nossa saúde física, mental e emocional. Nesse sentido, há acordes agradáveis que enchem nossa alma de refazimento e confiança no eterno.  

Artigo: Abihel / Jorge

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Neuroplasticidade infantil e progresso moral

“Jesus, porém, chamando as crianças para junto de si, ordenou: “Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a eles.” (Lucas, 18: 16)

Etimologia: Plasticidade cerebral ou neuronal provém do grego “plassein”, que significa moldar, dar forma. Neuroplasticidade, igualmente conhecida por plasticidade neuronal ou maleabilidade cerebral, é a capacidade de mudança e reorganização dos neurônios em face a mudanças ambientais, experimentais, sociais, físicas e lesões mais graves. O processo contínuo dessa mudança cerebral em reorganizar os circuitos neurais promove a recepção de novos pensamentos na renovação de atitudes. Compreendamos que inserido em uma nova reencarnação o homem tem a oportunidade de corrigir as más inclinações. “Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores.” (O Livro dos espíritos, questão 385)

A ciência assegura que na infância a neuroplasticidade é maior, graças ao cérebro ser mais flexível para aprendizagem. Desde o nascimento o cérebro humano inicia o processo de formação de circuitos neurais. Esses circuitos têm uma composição semelhante a uma teia e são chamados de sinapses. Em cada aprendizado ou vivência enriquecedora, a comunicação entre os neurônios fica mais forte e eficiente. A estimulação cognitiva é fundamental para que o cérebro esteja preparado para se adaptar às exigências do meio. A saúde físico-emocional, as habilidades sociais e as capacidades cognitivo-linguísticas que emergem nos primeiros anos são pré-requisitos importantes no banco escolar e na universidade da vida. Se a criança for negligenciada, muitas ligações entre os neurônios deixam de ocorrer, pois afetam o potencial de aprendizagem e seu desenvolvimento nesse sentido. Na obra Nos Domínios da Mediunidade, de André Luiz, o emérito mensageiro descreve que o pensamento pode ser moldado: “Nossa mente é um núcleo de forças inteligentes. A ideia é um ser organizado por nosso Espírito, a que o pensamento dá forma e ao qual a vontade imprime movimento e direção.” Nesse universo de adestramento da psique a criança desassistida pelos pais ressurge, posteriormente, no jovem traumatizado que modela a personalidade do adulto no amotinado social.  Deste modo, a infância é um período sensível para o desenvolvimento, notadamente nos cinco primeiros anos. Os postulados espíritas jamais se descuraram da importância da educação na edificação do caráter, definida como condição prioritária à formação do homem de bem, que é o campo de atuação da evangelização infantil. No livro Pedagogia Espírita, de J. Herculano Pires, pág. 113, o autor faz observação acerca da moldagem do caráter: “Cada ser traz consigo, para cada existência, os resultados do seu desenvolvimento anterior, em existências passadas. Esses resultados se encontram em estado latente no seu inconsciente, mas desde os primeiros anos de vida começam a revelar­-se nas suas tendências e no conjunto das manifestações do seu temperamento. Cabe aos pais e educadores observar esses sinais e orientar o seu ajustamento às condições atuais…” A alma recém-chegada está imbuída dos propósitos positivos que a trouxeram a Terra. Revestido de sabedoria imortal, Emmanuel em Caminho, Verdade e Vida, cap. 12, assinala a necessidade de educar as crianças sem displicência, mas em bases da pedagogia espírita que está entranhada nas obras de Kardec que deve formar o homem do porvir: “[...] pais humanos têm de ser os primeiros mentores da criatura. De sua missão amorosa, decorre a organização do ambiente justo. Meios corrompidos significam maus pais entre os que, a peso de longos sacrifícios, conseguem manter, na invigilância coletiva, a segurança possível contra a desordem ameaçadora. […]”.  É indispensável nutrir os espíritos infantis de valores e virtudes com lídimo amor cristão, porquanto são as virtudes que regulam os atos humanos, ordenam suas paixões e guiam sua conduta. Segundo o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão: “repetições dos bons hábitos geram bons costumes, por isso as virtudes são socialmente valorizadas.” Temos na Declaração Universal dos Direitos Humanos os valores universais que são pilares da convivência entre os cidadãos do orbe, conduzindo-os ao caminho da ética e do amor fraterno. Deve-se, pois, ensinar as crianças esses valores para despertar suas consciências diante da vida em sociedade. São eles: assertividade, bondade, compaixão, compreensão, comprometimento, confiança, consciência multicultural, cooperação, coragem, cortesia, criatividade, dedicação, determinação, diligência, disciplina, empatia, flexibilidade, generosidade, gentileza, gratidão, honestidade, humildade, idealismo, integridade, justiça, lealdade, moderação, organização, paciência, perdão, perseverança, propósito, polidez, respeito, responsabilidade, tato e união. Consoante Vinícius, Nas Pegadas do Mestre, cap. A virtude: “[...] O hábito da virtude é fruto de uma porfiada conquista. Possuí-la é suave e doce. Praticá-la é fonte perene de infindos prazeres. A dificuldade não está no exercício da virtude, mas na oposição que lhe faz o vício, que com ela contrasta. [...]”. Não se pode, dessa forma, confundir conceito de educação com o de instrução escolar, porquanto entre o homem educado e o homem instruído há um abismo que os separa. Quem educa cria valores ético-culturais para uma vivência nobre. Quem instrui oferece meios para que a cognição dilate compreensão em derredor de si mesmo. A finalidade da Doutrina Espírita, como processo de educação, é o aperfeiçoamento da alma no campo moral e intelectual por meio dos sentimentos. As ideias sobre valores devem ser objeto de conversação e discussão na ambiência doméstica. Certamente, o homem é o resultado de sua infância. O Codificador, na Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. vol.6, assim externa o pensamento sobre as qualidades morais: “[...] a virtude não está inteiramente banida da Terra, como pensam certos pessimistas. Sem dúvida nela o mal ainda domina, mas quando se procura na sombra, percebe-se que, sob a erva daninha, há mais violetas, isto é, maior número de almas boas do que se pensa. Se elas surgem a intervalos tão espaçados, é que a verdadeira virtude não se põe em evidência, porque é humilde; contenta-se com os prazeres do coração e a aprovação da consciência, ao passo que o vício se manifesta afrontosamente, em plena luz; faz barulho, porque é orgulhoso. O orgulho e a humildade são os dois polos do coração humano: um atrai todo o bem; o outro, todo o mal; um tem calma; o outro, tempestade; a consciência é a bússola que indica a rota conducente a cada um deles. [...]”.  Assim, o espírito é beneficiado na neuroplasticidade infantil a se adaptar a diferentes experiências que contribui para sua aprendizagem ou o ‘re-aprender’, visto que pode ser remodelado com qualidades essenciais que regularão seus atos no organismo social. Consoante Kardec, educação é a chave do progresso moral. 

Artigo: Abihel / Jorge

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Teologia da prosperidade na perspectiva espírita

"A prosperidade do homem está nas mãos de Deus, é ele que põe na fronte do escriba um sinal de honra." (Eclesiástico, 10: 5) 

“Muitos religiosos perguntam por que motivo protegeria Deus o progresso material dos ímpios. Em verdade, porém, semelhante fortuna não existe, de vez que a prosperidade, ausente da reta conduta, não passa de apropriação indébita e é como roupa brilhante cobrindo chagas ocultas, que exigem a formação de reflexos contrários aos enganos que as originaram, a fim de que a prosperidade legítima, a expressar-se em serviço e cultura, amor e retidão, confira ao espírito o reflexo dominante da luz.” (Pensamento e Vida, Emmanuel)

Etimologia: Prosperidade advém do latim “prosperitate”, que significa ditoso, afortunado. O termo latino é formado pela junção dos elementos ‘pro’, que quer dizer a favor, e ‘spes’, que significa esperança. No sentido bíblico é ter sabedoria e ser fiel. No mundo religioso tem o significado de “recompensa” por haver obedecido os mandamentos estabelecidos.

Consoante o emissário Emmanuel, na obra Pensamento e Vida: “Prosperidade na Terra quer dizer fortuna, felicidade. Grande parte das criaturas, almejando-lhe a posse, pleiteia relevo, autoridade, domínio... Gastam-se largos patrimônios da existência para conquistar-lhe o prestigio e não falta quem surja no prélio estudando as forças ocultas para incorporar-lhe o bafejo. [...] Muita gente, pela reflexão mental incessante em torno dos recursos amoedados, progride em títulos materiais; entretanto, se os não converte em fatores de enriquecimento geral, cava abismos dourados nos quais se submerge, gastando longo tempo para libertar-se do azinhavre da usura. [...] Há, por isso, muita prosperidade aparente, mais deplorável que a miséria material em si mesma, porque a mesa vazia e o fogão sem lume podem ser caminhos de louvável reparação, enquanto o banquete opíparo e a bolsa farta, em muitas ocasiões, apenas significam avenidas de licença que correm para o despenhadeiro da culpa, de onde só conseguiremos sair ao preço de longos estágios na perturbação e na sombra. [...] Em razão disso, o conceito de prosperidade no mundo é sempre discutível, porquanto nem todos sabem possuir, elevar-se ou comandar com proveito para os sagrados objetivos da Criação.” Afinal, o que é Teologia da Prosperidade? É crença insciente de que a Vontade Divina está à mercê dos homens nos seus desmandos de poder e glória. Na Terra do Cruzeiro essa distorção ganhou notoriedade e adeptos por meio do novo pentecostalismo, porquanto está escorado na abastança financeira, cura de doenças e expulsão de maus espíritos. Nesse propósito, desejam invalidar a Lei de Causa e Efeito também conhecida como lei de ação e reação que regula a vida universal. É sabido que é irreconciliável o evangelho de Jesus com a prosperidade financeira apregoado pelas escolas religiosas dos homens. O Divino Enviado jamais ensinou que a Boa Nova pudesse ser fonte de enriquecimento ilícito; ao contrário, o Senhor ofereceu a renúncia e a cruz àqueles que O seguirem. Em Lucas, 9:23-24 está escrito: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz a cada dia e me siga. Porque quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á”. O apóstolo João, cap. 16:33, igualmente clarifica que, assim como Cristo passou sofrimentos, os cristãos também passarão: “[...] No mundo, passais aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. Pedro também faz menção na sua primeira epístola 4:16: “mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes glorifique a Deus com esse nome”. O Messias não faz oposição a riqueza justa e sabiamente utilizada pelo homem. Observa-se que os pregadores da Teologia da Prosperidade fazem alusão a personagens bíblicos como Abraão, Jacó, Malaquias, rei Salomão e ao apóstolo Paulo para fundamentar suas interpretações nas bênçãos financeiras. Na igreja primitiva os apóstolos alertavam os cristãos para que vigiassem a si mesmos, pois pseudoprofetas se infiltrariam na igreja e introduziriam desvirtuamento das lições do Mestre. No evangelho da prosperidade, conhecido também como “confissão positiva”, o devoto é encorajado a usar Deus para beneficiar-se de forma egoística. A dinâmica da prosperidade foi fundada nos Estados Unidos pelo pastor Essek W. Kenyon em 1930; entretanto, quem popularizou o ensino foi Kenneth Hagin para se obter o que deseja. Esses ensinamentos são baseados em uma deturpação etimológica. A banalização do nome de Deus se evidencia e a fé se transforma em pura crença mercantilista. Ensinam, dessa forma, que pobreza e doença não representam a expressa vontade divina. A redenção trazida por Jesus, mediante essa interpretação, também inclui bênçãos financeiras. Além do dízimo, o adepto deve proferir palavras de fé para adquirir o que deseja. Um dos pressupostos dessa orientação é que a realidade material pode ser alterada por meio de palavras proferidas como “reivindicar, exigir, decretar e determinar” em nome do Cristo.  Desta maneira, desvirtuaram o sentido e se apropriaram das palavras do Divino Amigo na passagem em Marcos, cap. 11:24, que declara: “Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco”. Nessa linha de pensamento o Senhor tem o dever de responder aos desejos humanos para se ter uma vida de regalias sobre a terra, visto que o conceito de posse está associado às ‘leis de prosperidade’. Seus defensores alegam que é a vontade de Deus curar e dar riqueza a quem reivindica. Todavia, atentemos às infrações para quem desposa semelhante credo: promove o governo do anticristo, enrijece o coração dos injustos, obsta o amor ao semelhante, torna os homens mais avaros e instaura preconceito entre os seres. Na América do Norte a sua propagação está estreitamente ligada à expansão do televangelismo. O fato é que a vontade do Senhor é secreta aos homens, porquanto Seus juízos e Seus caminhos são impenetráveis, como cita Paulo: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!”. (Romanos, 11:33)

Origem do dízimo

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé [...] Condutores cegos!” (Mateus, 23:24)                                                  

Etimologia: Dízimo tem origem na palavra hebraica ‘Esser’, que quer dizer dez. Do latim ‘decimu’ (décima parte) aportuguesou-se como dízimo. A primeira menção de dízimo no Velho Testamento está registrada no livro Gênesis, 14: 18-20, referindo-se à uma atitude espontânea de Abraão que, após uma guerra, ofereceu o dízimo de tudo a um sacerdote Melquisedeque. Não há muita referência desse religioso. Depois do Êxodo, cap. 25-30, o povo israelita acabou vagando pelo deserto por quarenta anos. Juntamente com os Dez Mandamentos, o Senhor deu a Moisés instruções bem detalhadas de como o povo tinha que construir o tabernáculo e adorá-lo. A estrutura era portátil. Posteriormente, a lei Mosaica previu um imposto de 10 por cento (dízimas) dos animais e colheitas recolhidos uma vez ao ano, registrado em Levítico. É citado o livro de Malaquias, cap. 3: 6–10, para justificar a cobrança do dízimo: “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos. Desde os dias de vossos pais vos desviastes dos meus estatutos, e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós, diz o Senhor dos Exércitos [...] Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes”.

Citemos Deuteronômio no cap. 14: 22-29: “Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. E, perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas [...] Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo. Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem.” Dos versículos acima extrai-se as seguintes observações: o dízimo era pago com produtos agrícolas (colheita, grãos, endro, hortelã, cominho, óleo, farinha, etc.); os produtos tinham de ser levados a um tabernáculo, já que era portátil; quem morasse longe deveria vender o seu próprio produto, mas quando chegasse ao local destinado a oferta, teria de comprar os produtos daquele lugar para oferecer o seu dízimo a Deus; o Levita tinha o direito de receber a décima parte de tudo o que as outras 11 tribos lucrassem por que eles não receberam terras e não tinham como produzir. Observa-se que o dízimo foi criado para o Levita suprir suas necessidades. Assim, não há justificativa plausível, na contemporaneidade, que legitime a cobrança de dízimo no movimento cristão porque não há mais a personalidade representativa do levita na atualidade. “Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.” (2 Coríntios, 9:7).

Acautelemo-nos, pois, dos fariseus modernos que seguem as tradições dos homens: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos.” (Isaias, 29: 13). 

Adendo sobre os levitas

Quem eram os Levitas? Na tradição judaica, Levi era o terceiro filho de Jacó. Levita era um membro descendente de Levi. Os que pertenciam a família de Aarão eram sacerdotes por determinação de Deus, e tinham a função de zelar, montar, desmontar e transportar o Tabernáculo durante a peregrinação no deserto do Sinai, que era portátil; dessa forma, eram isentos de outros trabalhos: “Por esse mesmo tempo, o Senhor separou a tribo de Levi para levar a arca da aliança do Senhor, para estar diante do Senhor, para o servir e para abençoar em seu nome até o dia de hoje. Por isso Levi não tem parte nem herança com os seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como o Senhor, o Deus de vocês, lhe prometeu.” (Deuteronômio, 10: 8-9)                                  

Artigo: Abihel / Jorge

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Toxinas emocionais

“Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança.” (Tiago, 1: 2-3)

Etimologia: Toxina advém do latim toxicum, que significa elemento venenoso. No contexto científico é uma substância venenosa que provoca danos as funções vitais do organismo físico. No contexto figurado é tudo que enaltece o prejuízo moral. Toxinas emocionais são sentimentos negativos visto pela perspectiva de quem observa a vida pelas lentes da amargura, apatia, depressão, medo, solidão, ressentimento, culpa, ciúme, rejeição, raiva, desamparo, ódio, falta de perdão, etc. Nesse universo as doenças, limitações físicas, traumas e dores são consequências proveniente de sentimentos negativos empilhados no organismo físico-espiritual que causam a infecção emocional. Das iras e vinganças sobrevêm os tormentos psíquicos e males orgânicos, da obediência, docilidade e compaixão resultam o alívio do sofrimento. Desse modo, compreendamos a Lei de causa e efeito para que não sejamos, futuramente, afligidos por ela. Acautelemo-nos, pois, com as mágoas do coração, decepções, raiva, irritabilidade, rancor, ódio e represália. De forma modesta, examinemos a evolução das mágoas atrelado ao vaso físico do homem.

Decepção: Sentimento de insatisfação e desencanto que surge quando as expectativas sobre algo ou alguém não se concretizam. É acompanhado de melancolia, estresse e ansiedade.

Mágoa leve ou profunda:  Fusão de dois vocábulos: mágoa (má + água) = água ruim. São sentimentos recolhidos que influenciam no desenvolvimento de doenças. O cérebro reage como se estivesse em perigo, conquanto produz substâncias químicas ligadas ao estresse que limitam as ações. Patologias: úlcera, hipertensão, alergias, asma, estresse e até câncer. Mundo psíquico: irritabilidade, ansiedade, agressividade, nervosismo, etc.

Raiva: É o sentimento de protesto, insegurança e frustração quando o ego se sente ferido ou ameaçado. Patologias: falta de memória e problemas gastrointestinais. Em casos mais graves leva ao infarto cardíaco ou ao acidente vascular cerebral (AVC).

Irritabilidade: Estado emocional estimulado pela raiva ou frustração. Patologias: A irritabilidade persistente desenvolve transtornos mentais como depressão, ansiedade, transtorno bipolar do humor (TBH), transtorno de déficit atencional e hiperatividade (TDAH), transtornos intermitentes, elevação da pressão sanguínea, sudorese, taquicardia, vertigens, contração muscular, tremores, dores de cabeça, etc.

Rancor: Doença psicossomática ligada ao ressentimento profundo (raiva instalada) ocasionado pela ofensa e acompanhado por desejo de vingança. Patologias: Doenças cardiovasculares - hipertensão, angina, taquicardia; Doenças gastrointestinais - gastrite, úlcera, síndrome do intestino irritável; Doenças respiratórias - asma, bronquite, etc.; Doenças dermatológicas - herpes, urticária, enfisema; Doenças do sistema nervoso - enxaqueca, vertigens, etc.; Doenças endocrinológicas e metabólicas - obesidade, diabetes; Doenças das articulações - tendinite, artrite, etc.; Dores e tensões musculares; Doenças infecciosas; Doenças autoimunes e Câncer - mágoa profunda cultivada por tempo demasiado.

Ódio: Sentimento precursor de guerras que desencadeia antipatia e repulsa por uma criatura, lugar ou objeto. Por detrás do ódio há baixa autoestima, inveja, insegurança, imaturidade emocional, egoísmo, frustração e ausência de tolerância. Patologias: transtorno do estresse pós-traumático (TEPD), problemas cardíacos, sistema nervoso do cérebro, sistema ósseo e muscular, reumatismo, sistema respiratório, cirroses, hepatites e vasos sanguíneos.

Represália: É uma resposta por meios violentos e coercitivos a uma ofensa ou lesão sofridas. Quem impõe ou aplica a represália procura obter uma satisfação pelo dano recebido. O sentimento de vingança impõe desordem moral e baixa o sistema imunológico, deixando o organismo suscetível a doenças como as dores musculares. Em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XII – A vingança, lemos a assertiva do mensageiro do Alto: “[...] A vingança é uma inspiração tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a baixeza. [...] não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos, se vão avolumando pelo caminho. [...] Ah! o covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em plena face.” (Júlio Olivier. Paris, 1862)          

Perante o exposto, é preciso desenvolver a consciência de nós mesmos quanto reflexionar as fragilidades da mente para vencer os sofrimentos psíquicos. Na psicoterapia do desabafo as ondas cerebrais se tranquilizam, porquanto constitui-se alívio para a alma se libertar de suas tensões emocionais. Narrar sobre os tormentos da psique é necessário para superar trauma e reorganizar os sentimentos. À medida em que se expurga os aborrecimentos por meio do verbo, as sensações acres são amenizadas. Nesse colóquio, ressaltemos a importância de um bom amigo que deve guardar para si os anseios relatados. “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus, 11:28-30)         

 

Artigo: Abihel / Jorge

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